Uma das decisões de Trump com mais relevância económica refere sem dúvida à sua capacidade de escolher o responsável máximo pelo banco central americano, a Reserva Federal (Fed). Mesmo considerando que a política monetária moderna opera sob um mandato de independência face ao poder político, o certo é que a discricionariedade de seleção confere ao Presidente americano a possibilidade de moldar o banco central à sua conveniência, e é precisamente isso que Trump procurou fazer ao optar por Jerome Powell.
Fazendo valer toda a sua veia de reality-shows, o polémico Presidente fez desta escolha importante um desnecessário espetáculo de suspense entre os quatro principais candidatos. Caso Trump seguisse a tradição apartidária e de estabilidade, a atual presidente Janet Yellen – a primeira mulher a ocupar o cargo – seria reconduzida para um segundo mandato. Yellen, uma académica experiente e pouco carismática, foi altamente competente na execução do seu difícil mandato de retirada de estímulos monetários pós-crise, conseguindo navegar esse equilíbrio delicado sem causar sobressaltos económicos. Porém, as características pessoais e profissionais da agora presidente cessante não agradavam aos gostos nem objetivos políticos de Trump.
No campo económico Trump tem duas grandes promessas eleitorais que deseja cumprir: desregulamentar grande parte das regras financeiras implementadas após a crise subprime e acionar um programa de estímulo fiscal assente em corte de impostos. Em ambos os casos a política seguida pelo banco central poderá ser essencial para facilitar a execução destes objetivos, pelo que a escolha do seu líder teria de ser bem calculada. Neste contexto, a escolha de Jerome Powell não é surpreendente, isto porque era dos quatro candidatos aquele que combinava os dois ingredientes que Trump procurava.
O novo presidente da Fed assegura alguma continuidade pelo facto de ser promovido da sua atual posição como membro da comissão de governadores de política monetária. A Fed opera num regime de comité alargado, com quatro votos rotativos anuais a ser distribuídos entre os presidentes dos onze bancos centrais regionais e votos permanentes para os membros da comissão de governadores. ‘Jay’ Powell combina alguma experiência no setor público com uma carreira bem sucedida no grupo de investimentos Carlyle e mais recentemente tem sido um vocal apoiante do relaxamento de algumas das regras financeiras instituídas no pós-crise. A par de Janet Yellen era considerado dos candidatos mais favoráveis a uma política monetária acomodatícia por via de taxas de juro tendencialmente mais baixas, uma característica determinante para a sua nomeação. Numa fase em que aparentemente o aumento de dívida será a única forma de Trump materializar os seus muito publicitados cortes de impostos – depois da tentativa falhada de obter poupanças via Obamacare – uma política de taxas relativamente baixas facilitaria o financiamento desses défices públicos superiores, atirando para o futuro um possível problema de insustentabilidade.
*Gestor de portfolio multi-activo no BIG – Banco de Investimento Global