Na convocatória das oportunidades abriu-se espaço para mais uma. A lesão de Eder deixou livre uma vaga para um avançado e Fernando Santos chamou Gonçalo Paciência para os jogos com a Arábia Saudita e os Estados Unidos, naquela que é a primeira convocatória para a Seleção A do avançado cedido pelo FC Porto ao Vitória de Setúbal.
Teoricamente, a chamada é totalmente compreensível. Gonçalo Paciência tem escola de clube grande – está ligado aos dragões desde os oito anos –, é internacional por Portugal em todos os escalões desde os sub-15 e esteve nos dois últimos Europeus de sub-21 e também nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Aos 23 anos, cumpre a quarta temporada como sénior, somando 13 jogos e quatro golos pelos sadinos (dois no campeonato, um na Taça de Portugal e outro na Taça da Liga), onde depressa se estabeleceu como referência do ataque.
Houve, no entanto, muitas vozes a questionar a convocatória do filho de Domingos Paciência, uma das grandes referências da história do FC Porto quando se fala de goleadores. E isto porque, na verdade, a carreira como sénior de Gonçalo não tem sido propriamente polvilhada de golos. Marcou 14 em época e meia na equipa B dos dragões, um na equipa principal, quatro no empréstimo à Académica em 2015/16 e um no Rio Ave, na temporada passada – que iniciou no Olympiacos, cuja passagem ficou marcada por problemas cardíacos que o afastaram dos relvados e ditaram o regresso a Portugal. De imediato – e como acontece quase a cada convocatória da Seleção de há vários anos a esta parte – se atiraram para o ar nomes de outros avançados portugueses que apresentam melhores números esta temporada e que, eventualmente, poderiam merecer um olhar mais atento por parte de Fernando Santos. Até no Vitória de Setúbal, curiosamente, há quem tenha mais golos: o extremo João Amaral, de 26 anos, leva cinco.
Pegando no tema – que é, de facto, pertinente –, e numa convocatória feita deliberadamente para testar alternativas às opções recorrentes (até Cristiano Ronaldo ficou de fora), o i foi procurar os maiores goleadores portugueses pelo mundo na temporada em vigor. O top-15 que aqui apresentamos é absoluto, não se fixando apenas nos avançados – e é-o deliberadamente, de modo a mostrar que, de facto, não abundam opções de matadores para o lugar mais avançado.
Ronaldo não está no topo Há, ainda assim, alguns nomes a ter em conta. Com Paixão à cabeça. Marco Paixão, avançado nascido em Sesimbra e que, após uma passagem fugaz pelo FC Porto B, cedo decidiu emigrar e tentar a sorte por outras latitudes. Jogou nas divisões secundárias de Espanha, passou por Escócia e Irão e começou a deslumbrar em Chipre, em 2012/13, com 15 golos em 33 jogos. Na época seguinte mudou-se para a Polónia e desde então vai batendo recordes atrás de recordes, apesar de uma grave lesão e de uma passagem infrutífera pelo Sparta de Praga pelo meio. Tanto no Slask Wroclaw como no Lechia Gdansk, que representa atualmente, foi o melhor marcador do campeonato, e esta época soma já nove golos em 15 jogos, tendo-se tornado no melhor marcador estrangeiro de sempre do clube (27 golos). Tem 33 anos e nunca foi chamado à Seleção.
Com os mesmos nove golos, mas em 21 jogos, surge um nome surpreendente – tão surpreendente como a sua chamada, quase seis anos depois da última vez: Manuel Fernandes. O médio que despontou no Benfica em 2003/04 tem estado em grande nível no campeonato russo e na Liga Europa – onde fez esta época o primeiro hat-trick da carreira –, ao serviço do Lokomotiv, e pode aproveitar esta oportunidade concedida por Fernando Santos para baralhar as contas do selecionador num setor, o intermediário, onde definitivamente não há escassez de soluções.
Com oito golos, surge o incontornável Cristiano Ronaldo, que nunca deixará de ser opção nas escolhas finais mesmo que ande longe do registo habitual – destes, seis foram apontados na Liga dos Campeões e um na Supertaça espanhola, tendo apenas marcado um em sete jogos na Liga –, mas também Hugo Vieira, que nos últimos três anos, depois de superar uma fase muito complicada da sua vida pessoal, tem vindo a passear os seus dotes de goleador pela Sérvia, onde se tornou um ídolo para os adeptos do histórico Estrela Vermelha, e agora no Japão, ao serviço do Yokohama Marinos. Neste momento, todavia, o avançado de 29 anos encontra-se lesionado, pelo que não poderia marcar presença nas escolhas de Fernando Santos.
Com sete golos há cinco atletas: o avançado Élio Martins (32 anos) e o extremo Paulo Sérgio (33 anos), ambos a jogar na Indonésia, numa Liga de pouca expressão; o médio Tiago Rodrigues (25 anos), que vai recuperando na Bulgária a forma que o levou ao FC Porto com apenas 21 anos; e os mais conceituados Bruno Fernandes (Sporting, está convocado) e Diogo Jota (ex-FC Porto e hoje destaque no Wolves, orientado por Nuno Espírito Santo, que lidera o segundo escalão do futebol inglês).
André Silva, peça já essencial para Fernando Santos, surge com seis golos pelo AC Milan – todos apontados, todavia, na Liga Europa. Em termos de campeonato, continua a zero, somando apenas 320 minutos de utilização. Pedro Eugénio (Beroe, Bulgária) e Ricardo Alves (Olimpija, Eslovénia) não são avançados mas já levam os mesmos seis golos, estando ambos a fazer as melhores épocas das respetivas carreiras.
No grupo de jogadores com cinco golos aparecem aqueles que, curiosamente, mais têm sido referidos pelos adeptos: Orlando Sá e Nélson Oliveira. O primeiro, de 29 anos, é há várias épocas um dos melhores goleadores portugueses, apresentando números de respeito em Chipre (AEL Limassol), Polónia (Légia) e agora na Bélgica (Standard Liège). Este ano, sob o comando de Ricardo Sá Pinto, soma cinco golos em 11 jogos. Em 2015, numa época em que marcou 14 golos pelo Légia (apesar de ser muitas vezes suplente), o antigo ponta-de-lança de FC Porto, Braga ou Fulham reivindicou uma chamada; questionado sobre o tema, Fernando Santos foi cáustico. “Não analiso declarações, analiso jogadores. E fomos ver três vezes o Orlando Sá”, disparou, deixando entender que as exibições do jogador não terão agradado.
Já Nélson Oliveira tem estado lesionado e vai protagonizando uma época de altos e baixos no Norwich, do segundo escalão inglês: é mais vezes suplente do que titular, mas ainda assim soma cinco golos em 11 jogos. Ainda recentemente foi chamado à Seleção, e até correspondeu com um golo nos nove minutos em que esteve em campo frente às Ilhas Faroé. Tem 26 anos e será, certamente, um jogador a continuar na calha para Fernando Santos.
Falta ainda falar de Ricardo Vaz Té, desde agosto a jogar na China e com números de respeito: cinco golos em cinco jogos. Haverá quem desvalorize o campeonato chinês, mas recorde-se que já por várias vezes seleções como o Brasil convocaram atletas a atuar naquele campeonato. Vaz Té tem 31 anos e nas últimas duas épocas marcou 30 golos em 45 jogos, entre Turquia (25 golos em 40 jogos no Akhisar) e China. Há um ano, em entrevista ao i, pediu uma oportunidade na Seleção, lembrando que jogou grande parte da carreira – muito fustigada por lesões graves – a extremo e que, quando é utilizado como ponta-de-lança, os golos aparecem. Esteja Fernando Santos atento.