A equipa europeia de controlo e combate às campanhas de desinformação com origem na Rússia registou um aumento nas operações sobre o processo independentista catalão. De acordo com o “El País”, a East Stratcom Task Force, criada para contrariar as campanhas de informação sobre a guerra na Ucrânia e anexação da Crimeia, passou de registar uma média de quatro notícias enganosas em meios russos sobre o independentismo catalão em cada semana para à volta de 241.
“A Catalunha é um outro caso de interferência perversa”, diz o eurodeputado romeno e vice-presidenete dos sociais-democratas europeus Victor Bostinaru, em declarações ao “El País”. “Os dados das agências de informação confirmam que pelo menos uma parte dos hackers que promoveram determinadas campanhas online estavam na Rússia”, acrescentou, falando do campo de operações na Catalunha.
“Não se pode ser ingénuo: atrás dessas palavras e slogans favoráveis ao independentismo há intenções ocultas.”
A Catalunha parece ter entrado para o radar das operações russas da mesma maneira que acontece a outros países e regiões que atravessam momentos políticos decisivos e fraturantes. Só este ano, as autoridades europeias alertaram para intervenções semelhantes nas eleições francesas e alemãs. Nos Estados Unidos, claro, o Congresso e o FBI investigam se a própria campanha do novo presidente colaborou com agentes russos nas operações de interferência.
Em anos anteriores, e fora das habituais ações nos países dos Bálticos e na guerra civil ucraniana, Moscovo parece ter atingido também o referendo britânico à permanência na União Europeia e o referendo holandês que punha em causa o acordo de associação entre Kiev e a UE. O Kremlin nega-o e Bruxelas, em todo o caso, recusa acionar o botão de alarme: a equipa da East Stratcom Task Force tem apenas 17 elementos e nenhum orçamento próprio. O Parlamento e Conselho Europeus, contudo, querem alterá-lo e triplicar os recursos.
Fora da ação eletrónica, Bruxelas prossegue a sua campanha suave de controlo diplomático à distância. O papel coube desta quinta-feira ao presidente da Comissão Europeia, que recebeu um doutoramento honoris causa da Universidade de Salamanca e discursou contra o “veneno” dos nacionalismos, separatismos e populismos na Europa sem alguma vez falar explicitamente do independentismo catalão.
“Temos que dizer que não a todas as formas de separatismo, que fraturam as estruturas já existentes”, disse Jean-Claude Juncker a uma plateia em que se encontravam o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, e o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, por exemplo.
“Não podemos jogar com a lei, não podemos jogar com o direito”, disse o presidente da Comissão Europeia, espelhando uma das mensagens centrais que por estes dias partem de Madrid. Juncker, porém, ofereceu também uma crítica pouco disfarçada a Rajoy e disse que para lidar com os separatismos é preciso “paciência”.