Foi lançada para as feras na ressaca do referendo que ditou o sim ao Brexit, protagonizou braços de ferro com tribunais, colegas partidários, deputados e lordes para poder formalizar junto de Bruxelas a intenção dos britânicos, perdeu uma maioria parlamentar de 17 deputados contra uma oposição desorganizada numas eleições antecipadas que a própria convocou e ainda não conseguiu convencer os parceiros europeus a olhar com otimismo para a sua estratégica negocial. Tudo somado e contra todas as expectativas, Theresa May continua firme no número 10 de Downing Street e, assim sendo, não há outra forma de olhar para o seu trajeto à frente do governo senão a de concordar que toda as previsões sobre a sua morte política foram mesmo exageradas.
Os eventos da última semana atestam, aliás, esta realidade. Depois da demissão do ministro da Defesa, Michael Fallon, no primeiro dia deste mês, por alegado assédio sexual – foi prontamente substituído no cargo por Gavin Williamson –, esta quarta-feira à noite caiu novo elemento do executivo. Priti Patel, ministra do Desenvolvimento Internacional, endereçou um pedido de demissão à primeira-ministra, na sequência das revelações, divulgadas em primeira mão pela BBC, de que aproveitou umas férias familiares recentes, em Israel, para se reunir com figuras políticas e empresários locais, sem as reportar ao governo ou às representações diplomáticas no país.
Na sequência dessas reuniões, Patel terá mesmo inquirido junto do seu ministério sobre quais as possibilidades de financiamento de operações humanitárias do exército judeu na região dos montes Golã, ocupada por Israel e não reconhecida pelo Reino Unido.
Face à violação flagrante do código protocolar exigido a todos os ministros do executivo britânico – a demissionária esclareceu que as suas ações foram praticadas com “a melhor das intenções” mas admitiu não ter cumprido os “padrões de transparência e abertura que sempre promoveu e defendeu” – , a primeira-ministra não teve outra hipótese senão ver-se livre de Patel e perder um segundo ministro num curto espaço de tempo, numa altura em que enfrenta uma das fases mais decisivas das negociações com vista à saída do Reino Unido da União Europeia.
As constantes provas de resiliência demonstradas por Theresa May não impedem, contudo, que em Bruxelas não se coloquem sobre a mesa todos os cenários possíveis, na hora de calendarizar os próximos pontos da agenda. Um líder europeu confessou ao “Times” que na organização comunitária existe, inclusivamente, um planeamento já feito para o caso de May cair “antes do ano novo”. “A liderança no Reino Unido está cada vez mais frágil (e) a fraqueza de Theresa May torna as negociações muito difíceis”, justificou o político, revelando ainda que a UE está também preparada para um “não-acordo”.
Pró-Brexit substitui Patel
Tal como verificado aquando da troca de Fallon por Williamson, também a substituta de Priti Patel foi encontrado em menos de 24 horas. Theresa May cumpriu com as expectativas e esta quinta-feira à tarde nomeou uma “brexiteer” para liderar o ministério do Desenvolvimento Internacional: Penny Mordaunt.
A antiga secretária de Estado do Trabalho e Segurança Social, de 44 anos, foi uma das representantes do Partido Conservador que deu a cara pelo abandono dos britânicos da União durante a campanha para o referendo e com a sua nomeação volta a equilibrar-se o número de ministros que apoiam e que desconfiam do Brexit dentro do executivo.