É no teatro que me sinto em casa, que sinto que tenho um espaço que me permite desafiar-me, ir mais longe, aprofundar”, dizia Diogo Infante numa entrevista publicada em maio deste ano no Observador. E é, portanto, na casa que escolheu que prossegue o seu caminho: a Fundação Inatel anunciou que será Diogo Infante o novo programador e diretor artístico do Teatro da Trindade. A escolha “justifica-se pela sua competência, experiência e trabalho, plenamente reconhecidos no panorama artístico e teatral nacional”, afirma Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, entidade gestora da sala, em comunicado enviado à agência Lusa. O novo diretor executivo será Hugo Paulito, que até aqui desempenhava funções de diretor-adjunto.
Aos 51 anos, o ator e encenador vai substituir Inês de Medeiros, considerada a grande revelação das últimas eleições autárquicas ao conquistar pelo PS câmara de Almada, tradicionalmente comunista. A atriz, que desde janeiro de 2016 é também vice-presidente da Fundação Inatel, cessou funções como diretora do Teatro da Trindade a 27 de outubro. No dia seguinte, tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Almada.
Competência e reconhecimento Inês rumou a Almada, Diogo ruma, a partir de dezembro, à Trindade, teatro que comemora, já no final deste mês, 150 anos.
A larga experiência do ator e encenador justifica a escolha – no palmarés, leva as cadeiras homónimas de outras salas grandes de Lisboa. Entre 2006 e 2008, foi diretor artístico do Teatro Maria Matos. Em dezembro desse ano, após nomeação do então ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, assumiu a liderança do Teatro Nacional D. Maria II, de onde saiu em 2011, mas não pelo seu próprio pé: foi afastado pelo então secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas. O afastamento com efeitos “imediatos” surgiu após Diogo Infante ter suspendido a programação do D. Maria ll para 2012 na sequência de cortes anunciados pelo anterior Governo. “Se o Governo entender que o TNDM II deva tornar-se num espaço de acolhimento, cedência e aluguer, deixará de fazer sentido um projeto artístico”, avisara, ameaçando demitir-se. O Governo, como se viu, não gostou da ameaça.
Carreira A frontalidade apenas lhe trouxe, contudo, mais reconhecimento num meio que já dominava há muito. Afinal, Diogo Infante é presença assídua nos palcos desde o final dos anos 80, década em que se formou na Escola Superior de Teatro e Cinema.
Já colaborou, como ator e encenador, com muitos teatros do país: Teatro Aberto, Teatro Experimental de Cascais, Teatro Villaret, São Luiz…
E é uma cara – e voz – bem próxima do grande público, já que foi trabalhando sempre em cinema e televisão. Curiosamente, como encenador, estreou-se no Teatro da Trindade, logo no início dos anos 90, com as peças “O Amante”, de Harold Pinter, e “Segredos”, de Richard Cameron.
Este ano, andou em digressão pelo país ao lado de Alexandra Lencastre, com quem já partilhou várias vezes o protagonismo, com a peça “Quem Tem Medo de Virginia Woolf”, de Edward Albee. Em abril, passaram pelo Teatro da Trindade. Agora, em dezembro, Diogo Infante pisa novamente o histórico teatro. E, desta vez, o palco será outro.