Para a maioria das pessoas, o Expresso do Oriente é apenas o comboio mais famoso de Hollywood – foi nos seus vagões que, em 1963, James Bond lutou contra os inimigos da coroa britânica, e as suas carruagens são o cenário de uma das histórias mais conhecidas de Hercule Poirot, a personagem criada por Agatha Christie – a nova adaptação ao cinema estreou recentemente em Portugal. Mas qual é a verdadeira história deste mítico comboio?
Em 1865, Georges Nagelmackers, filho de um conhecido banqueiro belga, ficou fascinado com os desenvolvimentos tecnológicos que surgiam nos Estados Unidos. A sua vontade era trazer para a Europa comboios tão inovadores quanto os que tinha visto na América e que conseguissem atravessar o continente.
Já em 1883, depois de vários falhanços, problemas financeiros e dificuldades nos negócios, Nagelmacker conseguiu finalmente criar o seu comboio: uma das particularidades era a existência de vagões-cama, para que os passageiros pudessem descansar como deve ser durante a viagem. Até porque o comboio de Nagelmacker fazia uma viagem muito longa – ia de Paris até Istambul, conhecida na altura como Constantinopla.
Na altura, os jornais começaram a dar o nome de ‘Expresso do Oriente’ ao comboio que fazia esta viagem… Nagelmackers gostou do nome e acabou por ‘adotá-lo’.
A sua primeira viagem ocorreu a 4 de outubro, com dezenas de jornalistas a bordo. No seu interior, o comboio parecia um dos mais luxuosos hotéis da Europa, com vários pormenores em madeira, pele e seda. A viagem durava pouco mais de 80 horas.
O comboio dos reis
Foi no Expresso do Oriente que alguns dos reis mais poderosos do mundo exibiram comportamentos… Estranhos. Fernando I da Bulgária, por exemplo, foi visto a trancar-se numa casa de banho, com medo de ser assassinado durante a viagem. Já o czar Nicolau II obrigou a que fossem construídas carruagens novas em homenagem à sua visita a Paris.
Mas a histórias com maior impacto foi a do presidente francês Paul Deschanel. A sua viagem em 1920 ficou marcada por um momento caricato e perigoso ao mesmo tempo: o presidente caiu da janela da carruagem onde seguia, depois de tomar comprimidos para tentar dormir. Noutra ocasião, saiu de uma reunião importante com vários governantes e entrou num lago, ainda vestido. Estes comportamentos levaram a que Deschanel pedisse a demissão e desse entrada numa instituição psiquiátrica.
O comboio dos espiões
Vários espiões apanharam o Expresso do Oriente, garante E. H. Cookridge no livro ‘Orient Express: The Life and Times of the World’s Most Famous Train’, citado pelo site Smithsonian. Este comboio “facilitava o seu trabalho e tornava as viagens muito mais cómodas”- um dos agentes mais conhecidos que viajou neste comboio foi Robert Baden-Powel, que, durante o percurso, se disfarçou de colecionador de borboletas – os seus esboços destes animais serviam, segundo o artigo publicado no Smithsonian como código para ajudar os britânicos e os italianos durante a Primeira Grande Guerra.
As guerras acabaram por condicionar os serviços do Expresso do Oriente, mas, mesmo assim, este comboio acabou por desempenhar um papel fundamental neste período da História: a 11 de novembro de 1918, os oficiais alemães assinaram um documento de rendição numa das carruagens deste comboio. Esta esteve em exibição em Paris até 1940, quando Hitler ordenou que fosse recolocado no exato local onde os alemães tinham sido forçados a admitir a rendição, 22 anos antes. Nesse local, o fuhrer ditou os termos da rendição francesa, documento que, segundo Hitler, seria assinado em breve. No entanto, quatro anos mais tarde, quando a queda de Hitler parecia iminente, o líder nazi ordenou que a carruagem fosse destruída, para que não voltasse a ser “um troféu dos aliados”.
Hoje em dia, existem vários ‘descendentes’ do verdadeiro Expresso do Oriente – Poiror viajou num deles, o Simplon Orient Express. As viagens começaram a ser mais baratas e as carruagens começaram a encher com mais facilidade. Perdeu-se o glamour do original, mas as histórias acabaram por sobreviver até aos nossos dias.