Telemóveis: a droga das crianças

Os telemóveis, sobretudo quando têm jogos, estão para as crianças como as drogas para os adultos: viciam e fazem mal. São incontroláveis e desviantes. Tenho a certeza de que, por mais simples que seja, haverá sempre alguma coisa melhor para fazer do que estar a interagir com um desses ecrãs demasiado pequenos e luminosos. Mas…

Os telemóveis, sobretudo quando têm jogos, estão para as crianças como as drogas para os adultos: viciam e fazem mal. São incontroláveis e desviantes.

Tenho a certeza de que, por mais simples que seja, haverá sempre alguma coisa melhor para fazer do que estar a interagir com um desses ecrãs demasiado pequenos e luminosos.

Mas agora que as novas tecnologias chegaram às crianças é demasiado tarde para lhas retirar. Todos jogam, todos conhecem e depois do fruto proibido ser conhecido já não se pode fingir que não existe. Só se pode controlar e limitar.

Devemos acompanhar o evoluir dos tempos e não ficar presos ao que tivemos, a achar que no passado é que tudo era bom. Felizmente há evolução e modernização – e em vários aspetos para melhor. Mas devemos saber diferenciar e retirar o que as novas tecnologias têm de bom e dispensar o que não nos interessa. No que diz respeito a estes pequenos ecrãs, usados por pequenas crianças, sem dúvida que estamos a oferecer um caminho estranho, solitário, desinteressante e vazio.

Por várias razões: 

– Os ecrãs dos tablets e smartphones são de facto fantásticos, têm jogos incríveis, cheios de cor, luz e movimento. Quase hipnotizantes. Para algumas crianças, desde que conhecem esta realidade, é mais fácil passarem a achar tudo o resto chato e desinteressante;

– Como são fascinantes, são também viciantes, principalmente para quem tem uma personalidade mais atreita ao vício. São demasiado estimulantes e pouco adequados a crianças, que ficam fora de si quando o tempo chega ao fim e ansiosos pela próxima vez; 

– Reduzem a capacidade e prazer de saber esperar, porque são-lhes dados muitas vezes para preencher buracos ou quando os pais estão mais ocupados;

– Matam a criatividade, a imaginação e o sonho. Embora haja um vasto leque de jogos, são em geral vazios de conteúdo e repetitivos, logo, limitativos;

– São solitários, pois a criança, enquanto joga, normalmente está alheada do que a rodeia. 

Pode parecer paradoxal, mas o precoce conhecimento de jogos e aplicações de telemóvel por crianças por vezes logo a partir dos dois, ou mesmo de um ano, tem a ver, quanto a mim, com a crescente proximidade entre pais e filhos. Por um lado os mais pequenos têm maior acesso ao que é dos mais crescidos e, por outro, como pais e filhos estão mais tempo juntos, quando os mais velhos precisam de uma folga passam-lhes o entretenimento/alheamento certo para mão.

Agora seria impossível voltar atrás. Mas é importante que não nos esqueçamos das crianças atrás desses aparelhos nem acreditemos que estamos a dar-lhes o melhor nesses momentos só porque estão sossegadas e felizes.

Se defendemos que antigamente é que era bom, então não sejamos hipócritas, até porque os tempos não mudam sozinhos, e reservemos um bocadinho, por mais pequeno que seja, para o que nos dava tanto prazer: para os jogos de tabuleiro, sem ser de tabuleiro, inventados, em casa ou ao ar livre, para o faz de conta, a construção de brinquedos, cenários e brincadeiras, contar e ouvir histórias e, acima de tudo, para redescobrir com os mais pequenos o prazer de brincar.

filipachasqueira@gmail.com