“Pelo bem do país, Lula deve morrer”, assim começa a crónica de Mário Vítor Rodrigues publicada na revista “IstoÉ”. O jornalista defende que se trata de retórica e que a morte é simbólica, a morte política; a direção do PT, o partido do ex-presidente e virtual candidato às presidenciais de 2018, considera que a revista e o jornalista incitam ao crime e adianta que irá fazer queixa na justiça.
“A Justiça será acionada para medidas cabíveis contra o medíocre autor do artigo e contra a revista que lhe deu guarida no ato criminoso”, afirmou a direção executiva do partido numa nota de imprensa publicada no seu site oficial.
O deputado Reginaldo Lopes, do PT, considera que o artigo “revela o ódio contra o povo”, porque “quando não conseguem manipulá-lo, inventando candidatos, atacam dessa forma”, escreveu no Twitter.
Mário Vítor Rodrigues, entretanto, foi no domingo à esquadra de Copacabana pedir proteção policial por, alegadamente, ter recebido ameaças de morte desde a publicação do artigo. O cronista também bloqueou o acesso às suas contas de Facebook e Twitter.
De acordo com o diretor do site Brasil247, o jornalista e escritor Paulo Moreira Leite, que já foi diretor da “IstoÉ”, o autor da polémica crónica está apenas a cumprir a “segunda fase – previsível – de uma provocação iniciada com a publicação do seu infame texto”. Para Moreira Leite, “após lançar o fantasma de um crime no ar, o passo seguinte é assumir a posição de vítima e alegar que tem sofrido ameaças”. A seguir, Mário Vítor Rodrigues iniciará a terceira fase: a de convencer as autoridades a buscar suspeitos, antes de se arvorar o direito à liberdade de expressão para justificar o seu texto.
Nele, o cronista escreve: “Se Luiz Inácio ainda é escancarado por boa parte da sociedade como o prócer a ser seguido, se continua sendo capaz de liderar pesquisas [sondagens] e inspirar militantes Brasil afora, então Lula precisa de morrer.”
É certo que mais à frente, depois de chamar “criminoso” a um “personagem político” que tem “sanha pelo poder”, Rodrigues refere que “o folclore em torno de Lula precisa acabar, e isso só acontecerá se ele for derrotado nas urnas”, porque “só assim o espantalho do mártir poderá ser sepultado de uma vez”. Daí que a sua defesa seja a que se trata de retórica, de que é a morte simbólica do político e não a morte real da pessoa – só que o tom do texto e os seus primeiros parágrafos deixam “o fantasma de um crime no ar”, como escreve Moreira Leite: “Há momentos, sabemos todos, em que há mais verdade numa frase retórica do que na simples descrição dos factos.”
O ano passado, o jornalista Ayrton Centeno escreveu numa crónica que “Lula deve morrer porque morto o querem os donatários da capitanias hereditárias da mídia” e “porque é o desejo de muitos pet-jornalistas: colunistas, articulistas, apresentadores de rádio, jornal e TV e caudatários avulsos”. Só que, como refere, “há um problema: ele não quer” e “muita gente não quer que ele morra”. Daí que, “para Lula morrer, terão que matá-lo. Física ou civilmente”. Mário Vítor Rodrigues parece ser mais um que está a tentar.