Apesar de ter um fio condutor, esta é uma história contada em três atos.
Tudo começou às 3h05 de quarta-feira com um assalto por arrombamento no Pragal, em Almada, a uma caixa multibanco. A informação foi difundida pelo dispositivo policial das imediações, mas só na Segunda Circular, em Lisboa, no sentido Benfica-Sacavém, é que foi detetada uma viatura suspeita com as características correspondentes à usada no furto.
Neste segundo ato, os suspeitos, ao aperceberem-se da presença da polícia, fugiram em direção à Rotunda do Relógio, circulando a alta velocidade e em contramão. Já perto do aeroporto, dispararam contra os agentes que os perseguiam, que responderam também com disparos.
O último e derradeiro ato acontece às 3h35, na zona da Encarnação, junto ao aeroporto, quando a polícia deteta uma viatura “que aparentava corresponder às características da viatura suspeita”, explica a PSP em comunicado. No entanto, o i sabe que o carro usado no assalto, e que entretanto já foi apreendido pelas autoridades, era um Seat, enquanto o detetado mais tarde era da marca Renault.
Em comum, segundo o que o i apurou, tinham apenas a cor escura e o pormenor de circularem com as luzes apagadas, pormenor esse que fez com que a polícia o intercetasse. O condutor não obedeceu à ordem de paragem e seguiu em direção aos polícias, tentando atropelá-los, o que obrigou a polícia a recorrer a armas de fogo. Nesse tiroteio, uma mulher de 36 anos, que viajava ao lado do condutor, acabou atingida no pescoço e morreu no local. O homem que conduzia a viatura foi detido por condução sem habilitação legal, por desobediência ao sinal de paragem e por condução perigosa.
Mortes em operações policiais
A fiscalização da atividade das forças de segurança cabe à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), que elabora todos os anos um relatório de atividades. O documento mais recente disponível remonta ao ano de 2016 e, no que diz respeito às vítimas mortais em consequência de operação policial, o panorama não é animador: em dez anos, a ação da PSP e da GNR provocou a morte a 31 pessoas.
Se durante dois anos consecutivos, em 2014 e 2015, nenhum cidadão morreu no âmbito de operações policiais, a tendência mudou radicalmente em 2016. Nesse ano, o relatório dá conta de que a ação policial resultou em quatro vítimas mortais – três pela mão de agentes da PSP e uma por responsabilidade de militares da GNR.
O relatório compila o número de vítimas mortais resultantes da ação das duas forças de segurança, PSP e GNR, entre 2006 e 2016. Os números não eram tão graves desde 2008, 2009 e 2010, três anos em que morreram, consecutivamente, cinco pessoas. Durante esses dez anos, foi a PSP a responsável por mais vítimas: 16. No mesmo período, a atuação da GNR causou 15 vítimas mortais.
De referir ainda que o IGAI recebeu, em 2016, sete queixas dirigidas à PSP relativas à utilização de arma de fogo (ferimento e/ou ameaça com arma). Nenhuma foi apresentada contra a GNR. Já quanto às ofensas à integridade física, no mesmo ano, o IGAI recebeu 170 queixas relativas a agentes da PSP, e 82 a militares da GNR.
Consequências Este tiroteio também já está a ser investigado pela Inspeção Geral da Administração Interna, como é norma nestes casos. Além disso, paralelamente, a Polícia Judiciária já deu início a uma investigação.
Nestas situações, as armas dos agentes envolvidos no tiroteio são recolhidas para exames, para que se confirme a quem pertencem e se foram ou não usadas nos disparos. O i sabe que os sete agentes envolvidos foram dispensados durante pelo menos 24 horas, mas não estão suspensos das suas funções. Segundo a TVI24, a Polícia Judiciária alterou a qualidade em que os polícias vão ser ouvidos no processo, tendo passado de arguidos a testemunhas. Os agentes pertencem à equipa de intervenção rápida de Loures.