Web Summit, startups & falências

Que têm a ver o empreendedorismo e as startups com as falências e os avales pessoais? Têm tudo!

Em geral, tudo começa após o final do enésimo contrato a prazo, que empurra um jovem desesperado para a aventura do empreendedorismo, visto como último recurso para alcançar um ‘modo de vida’. O jovem sabe dos anúncios de linhas de crédito disponíveis, idealiza o seu projeto, enamora-se dele, recebe incitamentos e… avança.

Se for coisa para o tecnológico, palavras mágicas como startup e fundraising tornam a aventura irresistível. Sem alternativa, ignora as estatísticas, que mostram uma ‘mortalidade’ superior a 95% nas ditas startups.

Para um vencedor na universidade, cheio de sonhos de alamedas triunfais, não encontrar emprego compatível e viver à custa dos pais é caminho certo para o consultório do psiquiatra. Ilusão ou não, o empreendedorismo é o caminho que resta.

Para mais, os jornais estão cheios de histórias de mentes brilhantes, que transformaram as suas Apps em fortunas colossais. Mais modestamente, também se fala de jovens universitários que estão a ganhar ‘imenso dinheiro’ com uma aplicação que desenvolveram para gerir alugueres na airbnb ou, até, na produção de mirtilos na terra do avô…  

O business plan revela a necessidade do financiamento bancário, mas é para isso que existem as linhas de crédito prometidas pelo Governo.

E assim se inicia um calvário de entrevistas, em que o banco X, com fama de dar especial atenção a financiamentos para seed capital, pede mais e mais documentos, para alimentar conversas vagas.

Na verdade, o banco já aprovou pequenos financiamentos para o lançamento de empresas, mas com base num único critério: o aval dos pais do empreendedor! Pais que tinham a hipoteca da casa em fim de vida, abrindo folga para novo empréstimo; ou, então, depósitos a prazo suficientes para dar cobertura ao empréstimo necessário, mais os juros de cinco anos.

Os avales fazem entrar num jogo perigoso, que tem o desastre como desfecho mais provável. Ancorado nas garantias, o banco dispensa-se de fazer passar o projeto pelo crivo de uma avaliação séria, que seria a única forma de confirmar a viabilidade do investimento, ou de travar a aventura.

De todas as missões dos bancos, a mais louvável é a de apoiar a economia, financiando investimentos viáveis e matando à nascença os que não têm pernas para andar. Tudo o mais é batota. Os avales pessoais, de quem quer, unicamente, ajudar um filho, deveriam ser abolidos, por norma imperativa ou pela ética da profissão.

Num empréstimo, credor e devedor são responsáveis no mesmo plano.

Não pode existir reserva mental de quem empresta, segurando-se, apenas, na certeza da cobrança da dívida.

O dever de lealdade impõe que credor e devedor façam tudo quanto está ao seu alcance para que o contrato não se salde pela falência do mais fraco. Não há ‘lei dos 95% de insucesso’ que justifique a tragédia de uma família que perde a casa, por força de créditos que ‘não precisavam de ser analisados’.