No próximo mês de março, na antecâmara do arranque do Mundial de Futebol, realizam-se eleições presidenciais na Federação Russa.
Há precisamente cem anos, uma revolução ‘mudava’ o ambiente político na Europa e prometia a todos ‘pão, paz e terra’. E determinava a abdicação do Czar Nicolau II e alterava a geopolítica europeia e mundial.
A quatro meses daquelas eleições, e em razão de uma bem escassa oferta política, é inequívoco que Vladimir Putin as vencerá claramente e renovará por mais seis anos a liderança de um Estado imenso, multinacional e com uma população de cerca de 150 milhões de habitantes.
Em outubro de 1994 participei, em relevante parceria com Igor Kapyryn, na tradução para português da Constituição da Federação Russa de 1993, que introduziu um regime presidencialista e estabeleceu, na sua versão original, que «a mesma pessoa não pode ocupar o cargo de Presidente da Federação Russa por mais de dois mandatos consecutivos».
Foi no primeiro número da revista Polis.
E nessa versão originária, o mandato era de quatro anos – na linha do estatuído na Constituição da Federação dos Estados Unidos da América.
É inequívoco que houve na Rússia quer revisões constitucionais – de quatro para seis anos, os mandatos presidenciais – quer adaptações pragmáticas àquela Constituição, por forma a que a autoridade, a influência e o poder de Putin fossem claros, notórios, conhecidos e plenamente reconhecidos. A essência da tridimensionalidade do poder.
Mesmo que durante um lapso de tempo o ‘seu’ primeiro-ministro assumisse as funções de Presidente, e os poderes ‘presidenciais’ se concentrassem no formal ‘primeiro-ministro’ Vladimir Putin.
O relevante é que Putin é o centro do poder na Federação Russa.
Parte do povo ‘comunista’ é hoje em dia – num Estado em claro crescimento económico – ‘povo de Putin’.
Ganhará as eleições com uma maioria que, acredito, se situará acima dos 70%. Não há oposição credível nem, em rigor, é possível que ela se consolide e afirme.
Nada como visitar, nestes dias, o Museu da Guerra Patriótica de 1812 – a que mostrou uma nova realidade a Napoleão Bonaparte… – e, ao lado, com visitas escolares, a exposição patriótica de Lenine, que é um dos elementos marcantes do centenário da Revolução Russa de 1917.
E lá estão, sempre – e bem próximo do corpo iluminado de Lenine no Mausoléu construído nas proximidades do Kremlin –, os elementos patrióticos presentes e sempre enaltecidos. As vitórias perante os inimigos externos ou externos e, em simultâneo, a presente consciência de um sentimento popular antichinês – em razão de uma ‘invasão’ que chega a Moscovo e a outras importantes cidades da Rússia. Cujas estepes sempre absorveram (e múltiplas vezes copiosamente derrotaram) tantos invasores.
Mas compreender a Rússia é, hoje em dia, entender o comunismo e o sovietismo – e, ao mesmo tempo, Putin e os seus imensos e intensos poderes.
E, assim, se entende que, em termos de lógica de poder e das ofertas políticas concretas, não sejam muitas as diferenças entre Vladimir Ulyanov Lenine e Vladimir Putin. E nada como sentir o verdadeiro e profundo coração russo a palpitar para compreender esta ‘nova-velha Rússia’! Sentir mesmo!