O dia do filho único

Já há muito que tinha vontade de instituir o dia do filho único, mas por falta de tempo ou de determinação fui adiando. Agora que iniciei este compromisso sinto que, mesmo tendo sido sempre muito presente, perdi muito de cada um dos meus filhos e eles também. Felizmente ainda temos toda a vida pela frente.

Quando temos mais do que um filho, dificilmente temos muito tempo de qualidade para cada um. Passamos horas preciosas escravos de tarefas obrigatórias, como fazer o jantar, dar banhos ou lavar os dentes e as atividades que fazemos com todos são ótimas, mas muitas vezes difíceis e confusas devido à diferença de idades, acabando várias vezes de forma desastrosa.

O dia do filho único não deve ser quando calha ou quando dá jeito. Deve ser um tempo que os pais possam dispensar de acordo com a sua disponibilidade para estar só dedicados a um filho. Pode ser um dia, uma manhã, uma tarde, umas horas ou uns minutos, sempre na mesma altura, uma vez por semana, por mês ou o que ficar definido, mas que seja exequível, para que possa ser sempre cumprido e não haja desilusões, ou seria pior a emenda do que o soneto.

Isto é importante para a criança saber que tem um espaço seu, com o qual pode sempre contar. Não estica nem encolhe, tem um início e um fim determinado. Para que possa imaginar e planear o próximo encontro a dois.

São momentos em que o filho pode escolher o que quer fazer, dentro do razoável, e em que se pode estar sem interrupções dos mais velhos ou dos mais novos, a ter conversas e brincadeiras adequadas à sua idade. Assim conseguimos conhecer ainda mais cada um dos nossos filhos, olhá-lo de forma diferente e dedicar-lhe a nossa atenção e carinho em exclusivo.

Há muitos pais que são contra este conceito, por acharem que desde que têm irmãos os filhos deixam de ser únicos, que ganham mais em dividir todo o tempo com os irmãos, que já não conseguem viver uns sem os outros e até ficam tristes se forem impedidos de estar juntos, apostam na promoção da relação familiar como um todo.

Não percebo como as duas coisas possam ser incompatíveis, do que têm receio ou se partem do princípio de que os filhos não gostariam deste tempo ou se realmente tentaram saber a opinião deles primeiro.

Todos os filhos, por mais irmãos que tenham, serão sempre únicos, na sua singularidade, e esta individualidade deve ser olhada e promovida. Quando estão todos juntos muitas vezes as personalidades e idades desvanecem-se e em momentos de maior euforia sentimos que os nossos braços não são suficientes para todos os abraços ou que se atropelam e cada um não consegue acabar uma frase sem ser interrompido ou fazer uma torre que o mais novo não faça desabar. Esta partilha e este saber viver com o outro e aprender a não estar só centrado em si é muito importante e os irmãos são das relações mais importantes da vida, mas não impede que se possa ter um tempo seu, egoistamente seu, sem dividir o pai ou a mãe com mais ninguém. E que os pais possam também saborear cada um, descobri-lo e mimá-lo com um tempo de total dedicação.

Quem não aprova o termo ‘dia do filho único’ pode arranjar outro mais ao seu gosto. É importante é que o ponha em prática. Cá em casa sugeri que déssemos um nome a esse tempo. Não houve consenso, pelo menos aparentemente, mas desde então todos me perguntam desejosos pelo ‘MEU dia’.