ATO PRIMEIRO
Haia.
Tribunal Penal Internacional.
Entram Slobodan Praljak, cinco antigos generais croatas condenados por crimes de guerra contra a população muçulmana bósnia, advogados, o público e juízes.
Dois dos seis croatas sentados no banco dos réus e membros do coletivo “os cinco de Prlic” veem ser-lhes confirmadas as penas de há quatro anos em Haia.
O juiz faz o mesmo com Slobodan Praljak, que agarra nas mãos um pequeno frasco.
Ergue-se.
JUIZ – "Sr. Praljak pode sentar-se"
PRALJAK – “Slobodan Praljak não é um criminoso de guerra. Rejeito a vossa sentença com desprezo.”
Bebe do frasco e olha para as câmaras.
As mãos tremem de início, mas o líquido desaparece.
Câmara corta para o juiz que, confuso, ordena o fecho das cortinas e suspende a sessão.
Praljak é assistido fora de cena e morre momentos depois.
Posfácio
Assim foi esta quarta-feira no Tribunal Penal Internacional de Haia, palco da última cena em vida de Slobodan Praljak, o ex-general croata condenado por crimes de guerra contra a população muçulmana bósnia e que ontem se suicidou à vista de todos, em protesto contra a sentença de 20 anos que viu ser confirmada em recurso.
Praljak, que além de general era também encenador, realizador e autor de vários livros, executou o seu mais espetacular e público enredo. O anterior foi à frente das forças que atacaram Mostar e que em 93 foram acusadas de operações de limpeza étnica dos bósnios muçulmanos.
In a dramatic turn of events, former Bosnian Croat General Slobodan Praljak appeared to drink what he said was poison at the ICTY. pic.twitter.com/V3yZLW5sBT
— RFE/RL (@RFERL) November 29, 2017
Em 2013 fora já condenado a 20 anos, ao lado dos cinco outros homens que ontem partilhavam o banco dos réus. Os juízes concluíram então que os homicídios, violações, expulsão e tortura de muçulmanos bósnios às mãos das suas forças croatas no início da década de 1990 não foram “atos aleatórios de alguns soldados descontrolados”.
Esta quarta, mantiveram o juízo. Depois do suicídio de Praljak, a sessão continuou noutra sala e as sentenças dos três arguidos que ainda esperavam por ouvir o recurso também se mantiveram. Investiga-se agora como é que Praljak levou veneno para a sala de audiências e se o advogado, como parece, estava a par da sua derradeira peça.