Rex Tillerson chega ao fim da sua curta e desconfortável carreira de secretário de Estado. O presidente americano e outros altos responsáveis do governo parecem ter desenhado já os últimos dias do chefe dos Negócios Estrangeiros, o mesmo que a princípio representava na perfeição a imagem do funcionário ideal concebido pelo presidente – alguém sem carreira política ou militar e impressionantes galardões empresariais – mas em quem nunca confiou e foi gradualmente expulsando dos círculos íntimos da liderança.
A decisão ainda não foi tomada mas caiu esta quinta-feira nos grandes meios americanos – possivelmente plantada pela própria Casa Branca como via de pressão. Segundo relatos de várias pessoas próximas ao presidente, Tillerson sairá do Departamento de_Estado nas próximas semanas – o mais tardar em janeiro – e será substituído por Mike Pompeo, o atual diretor da CIA. Pompeo, ao contrário de Tillerson, cativou e ganhou a confiança de Trump no último ano. Tom Cotton, congressista republicano, pode substitui-lo na espionagem.
De acordo com o “New York Times”, Tillerson vinha dizendo a amigos próximos que não esperava continuar no cargo por muito tempo e pretendia sobreviver um ano para preservar alguma reputação. A torrente de declarações anónimas de grandes responsáveis governamentais, contando coerentemente a mesma história, sugeria um esforço concertado para garantir que não ultrapassará o marco: “O Rex está cá”, limitou-se a dizer esta quintaTrump aos repórteres que perguntavam se desejava que o ex-CEO da petrolífera Exxon permanecesse na administração.
A confirmar-se a notícia – o presidente, afinal de contas, tende a mudar drasticamente de ideias –, Rex Tillerson será o líder dos Negócios Estrangeiros com o mandato mais curto sob um mesmo presidente.
Ao fim de apenas um ano, aliás, Tillerson parece já uma figura desgastada num dos cargos mais importantes do governo americano: encabeça uma campanha contenciosa de despedimentos e cortes no pessoal no seu próprio departamento que lhe vem valendo a disfunção do órgão, viu-se repetidamente desautorizado em público por Trump quanto à sua estratégia para o acordo iraniano e tentativas de diálogo com o regime norte-coreano, e, em outubro, teve de convocar à pressa uma conferência de imprensa para declarar que nunca chamou “um verdadeiro anormal” ao seu presidente, como garantiam várias fontes à cadeia NBC.
O governo americano punha esta quinta-feira à noite água na fervura especulativa, mas não muita. “Não temos para já notícias sobre mudanças na administração”, afirmava a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, numa altura em que jornais e televisões faziam já contas ao substituto de Pompeo na CIA. Se Mike Cotton partir mesmo para a agência de espionagem, isso significa um lugar no Senado livre daqui a dois anos. E os republicanos, em apuros desde que Trump ascendeu ao poder, tem uma curta maioria que nenhum líder quer arriscar: apenas dois assentos.