A inteligência artificial (IA) entrou no mercado global do sexo, trazendo consigo uma revolução robótica. Apelidada de “sextech”, trata-se de uma tecnologia desenhada para oferecer uma gratificação sexual muito parecida com aquela que é oferecida pelo toque humano sem que outra pessoa esteja envolvida.
Estes robôs apresentam uma anatomia idêntica à dos humanos. O rosto, a pele e o toque foram desenhados para se assemelharem o mais possível à experiência entre duas pessoas.
Este tecnologia poderá ajudar as pessoas que sentem grandes dificuldades no momento de assumir uma relação íntima com os seus pares.
Mas, ao mesmo tempo, levanta preocupações como, por exemplo, o aumento da objetificação da mulher ou a utilização dos robôs para satisfazer desejos que seriam, de outra forma, considerados ilegais. A possibilidade de existirem relações entre humanos e robôs é uma outra questão que surge com esta tecnologia.
“Se o robô sexual for um substituto de um ser humano, é provável que tenha implicações na relação do utilizador com os outros seres humanos. Por enquanto é apenas um modelo mais sofisticado de bonecos insufláveis ou em silicone que tiveram pouca expressão na sociedade. No futuro podem tornar-se muito mais requintados e complexos. Quando conseguirem simular emoções humanas complexas, é provável que surjam mais complicações, sobretudo se passarem a ter ‘vontade própria’”, aponta ao i o sexólogo José Pacheco.
Ajuda
Para já, este tipo de tecnologia poderá servir pessoas que estão em lares, que sofrem de experiências traumáticas e homens que sofrem de ejaculação precoce ou de disfunção erétil. “Se estamos a falar de indivíduos que não são só incapacitados, mas também traumatizados, em certa parte” podemos considerar os robôs “um instrumento que vai trazer benefícios e vai ajudá-los no seu processo de cura”, explica Aimee van Wynsberghe, da Universidade Técnica de Delft, Holanda, ao “Guardian”. “Existem benefícios claros nesta tecnologia. Mas, como em tudo o resto, (…) é preciso encontrar uma maneira de criar o equilíbrio para aproveitar o que há de bom”, diz.
Objetos
Os estudiosos do tema apontam que a popularidade destes robôs será determinada pela maior aproximação à realidade que possam vir a ter. Apesar de já se assemelharem aos humanos, os movimentos, discurso e linguagem corporal ainda estão num estágio muito embrionário. Nota-se que são objetos.
Segundo José Pacheco, a equiparação de uma relação sexual entre um ser humano e um robô a um relacionamento humano “estará sempre na mente do utilizador, assim como na variedade de robôs sexuais que se inventarem, sobretudo na aproximação à realidade de uma pessoa de carne e osso”.
Estes robôs já deram origem a “bonecas do amor” muito desenvolvidas, capazes de 50 posições sexuais de forma autónoma e que podem ser customizadas, desde o formato do mamilo à cor do cabelo. Há vários fabricantes de robôs sexuais e os preços de cada unidade variam entre cerca de 4500 euros e os 13 500 euros.
Entre os que criticam a tecnologia há quem levante a possibilidade de se estar a criar um ecossistema idílico para quem sofre de perturbações mentais ou de patologias que instiguem ao crime.
Em 2015 foi lançada uma campanha contra os robôs sexuais. Nesta argumenta-se que acrescentar IA aos objetos e bonecos sexuais para os tornar mais semelhantes aos humanos, de forma a conseguir mais clientes, é antiético e será prejudicial para a humanidade.
O argumento é que os robôs obedientes, construídos apenas para servir os donos, poderão encorajar a objetificação, o abuso, a violação e a pedofilia. Defende-se que estes robôs contribuem para a objetificação das mulheres e replicam o conceito de prostituição. Segundo os investigadores, as ideias por detrás destes robôs “revelam o imenso horror do mundo da prostituição, que é construído na inferioridade percecionada das mulheres que justifica a sua utilização como objetos sexuais”.
Mas há quem argumente que os robôs sexuais poderiam reduzir os desejos dos criminosos de magoar outros humanos.
Para além disso, os robôs sexuais vão ajudar os envolvidos na prostituição e na exploração e violência sexual, uma vez que estas pessoas vão utilizá-los em vez de usarem pessoas. “Relativamente aos abusos sexuais, é possível que diminuam um pouco se considerarmos que uma pequena parte dos abusadores ficarão satisfeitos com o recurso ao robô sexual”, argumenta José Pacheco. “Neste caso, convém que o robô seja programado para desempenhar o papel de abusado”, afirma ao i o sexólogo.
Perversão
Uma outra discussão é a implicação para a sociedade da realização de todas as fantasias. “Não creio que os robôs consigam satisfazer a realização de ‘todas’ as fantasias sexuais”, diz José Pacheco. “Se isso fosse possível, creio que teria um efeito devastador no desejo sexual e, indiretamente, na atividade sexual”, acrescenta.
Em relação às “relações com significado”, com a IA, atual e futura, o consenso é que nunca os sentimentos humanos-robôs seriam mútuos. “O melhor que os robôs podem fazer é ‘fingir’. Os robôs não podem sentir amor.”