Nem o melhor guionista de Hollywood se atreveria a imaginar este desfecho. Foi com um golo do guarda-redes, cinco minutos para lá da hora, que o Benevento pôs fim à pior série de sempre de derrotas consecutivas a abrir um campeonato nas grandes ligas europeias. Mas, como se não bastasse, o golo salvador (2-2) de Brignoli – assim se chama o heróico guardião – aconteceu diante do AC Milan… e precisamente no dia em que o temível Gennaro “Rino” Gattuso se estreava no banco dos rossoneri. E mais uma curiosidade: Brignoli está no Benevento por empréstimo… da Juventus, um dos grandes rivais do Milan. Incrível.
#BeneventoMilan #Brignoli love it when the keeper is the hero!!! #serieA pic.twitter.com/f3zaZ1Ye3M
— Rene Kunisch (@10MagicHat) 3 de dezembro de 2017
Até aqui, o Benevento vinha a encher páginas de jornais, de papel ou virtuais, por essa Europa fora apenas por motivos pouco abonatórios. Naquela que é a sua primeira época de sempre no principal escalão do futebol italiano – depois de se tornar na primeira equipa a conseguir a subida na época de estreia na Serie B -, somou 14 desaires nas primeiras 14 jornadas, quer com candidatos ao título, quer com adversários diretos na luta pela fuga à despromoção. Pelo caminho derrubou os registos de Karlsruher (cinco derrotas seguidas a abrir a Bundesliga em 1963/64), Zaragoza (oito derrotas nas primeiras oito jornadas da Liga espanhola em 1952/53), Veneza (nove derrotas consecutivas na Serie A em 1949/50), Grenoble (11 desaires seguidos na Ligue 1 em 2009/10) e Manchester United, que até agora detinha o indesejado recorde de 12 derrotas em 12 jornadas no campeonato inglês, na longínqua temporada de 1930/31. Por curiosidade, o recorde em Portugal é de nove desaires nas primeiras nove rondas, pertença de Casa Pia (1938/39) e Olhanense (1963/64).
Este domingo, o dia de glória (ou quase) chegou finalmente, e do modo mais inesperado para as bruxas – é essa a alcunha do Benevento, devido à tradição milenar de rituais pagãos na cidade que dá o nome ao clube, situada a noroeste de Nápoles, no sul de Itália. O Milan – com André Silva sentado no banco – esteve por duas vezes em vantagem, com golos de Bonaventura (38’) e Kalinic (57’). Pelo meio, Puscas (um jovem avançado romeno, em nada relacionado com a lenda do futebol húngaro mas cedido… pelo Inter de Milão) tinha marcado o que parecia ser não mais do que um golo de honra para a frágil equipa da casa.
Até àquele livre lateral aos 90’+5’. Toda a equipa acreditou, o guardião Brignoli também… e a festa aconteceu. “É difícil de descrever! Fui lá à frente com esperança. Pensei que nada tínhamos a perder. Fui lá, saltei e fechei os olhos. Foi mais um mergulho à guarda-redes do que à avançado”, atirou o ainda incrédulo ‘keeper’. Já Gattuso, como é bom de perceber, fumegava. “Era melhor sofrer uma facada do que um golo naquele momento”, disparou, bem ao seu estilo, o sucessor de Vincenzo Montella no comando técnico do Milan. “Temos de lamber as feridas e continuar. Há muito a melhorar, de todos os pontos de vista. A equipa deu tudo, entregou-se e podia ter ganho. Sabíamos que o Benevento ia jogar com muito desejo e sofrer um golo do guarda-redes, a 30 segundos do fim… é estranho e magoa”, completou.
Obviamente, o cenário continua bastante negro para o Benevento. Este foi o seu primeiro ponto em 15 jogos, sendo que a primeira equipa acima da linha de despromoção (SPAL) está a nove de distância. As bruxas têm oito golos marcados e 36 sofridos, estando já no segundo treinador da época – Roberto De Zerbi substituiu Marco Baroni após a nona jornada. Veremos se o milagre frente ao Milan constituirá um novo começo.
Inter passa para a frente Não foi só o Benevento a ter motivos para sorrir neste domingo. Em Milão, o Inter goleou o Chievo (5-0, com João Mário no onze) e subiu à liderança do campeonato, aproveitando a derrota caseira do Nápoles frente à Juventus na véspera.
Em Espanha, o Valência não aproveitou o empate do Barcelona na receção ao Celta (2-2), no sábado, fazendo ainda pior: perdeu por 1-0 na deslocação ao terreno do Getafe. Assim, segue em segundo, mas agora a cinco pontos do Barça e apenas um à frente do Atlético de Madrid. O Real, que não conseguiu sair do nulo na visita a Bilbau, é quarto, a oito pontos da liderança.
Na Premier League, tudo na mesma. O Manchester City suou muito, mas levou de vencida o West Ham (2-1), igualando o recorde de vitórias consecutivas na prova: 13.