Theresa May colheu esta segunda-feira os primeiros frutos amargos da improvável aliança que formou com o Partido Democrático Unionista (DUP) na ressaca das eleições antecipadas de junho que retiraram a maioria ao Partido Conservador em Westminster.
No final de um dia estranhamente otimista, no que a avanços sobre o Brexit diz respeito, os ultraconservadores norte-irlandeses decidiram travar o acordo entre Londres e Bruxelas, com vista à conclusão da primeira fase de negociações, por discordarem das cedências que a primeira-ministra estava disposta a fazer, relacionadas com a fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.
Arlene Foster, líder do DUP, não terá gostado de saber que a proposta de May, acordada com Dublin, passava por um alinhamento de Belfast com a legislação europeia, para impedir o estabelecimento de uma fronteira rígida na ilha irlandesa, e reivindicou para a Irlanda do Norte um estatuto em nada divergente com o do resto do Reino Unido.
A irredutibilidade dos unionistas relevou-se uma verdadeira machada nos esforços logrados por May, depois de um longa maratona de reuniões em Bruxelas, com figuras como Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu.
O compromisso quase alinhavado, que se transformou numa mão cheia de nada, mereceu de Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês, uma reação de “surpresa e desapontamento”, pois tinha sido informado de que havia um princípio de acordo. “Reconheço que Theresa May está a negociar em boa-fé. A minha posição é inequívoca, a Irlanda quer passar à fase dois. Não podemos aceitar enquanto não houver garantias seguras de que não haverá uma fronteira rígida em qualquer circunstância”, afirmou o líder do governo irlandês, citado pelo “Irish Times”.
Brexit revertível?
O ex-primeiro-ministro Tony Blair revelou no domingo que está a trabalhar para reverter o Brexit e recebeu ontem o apoio de outros nomes do universo trabalhista.
Alastair Campbell, antigo porta-voz, reclamou que perante a divulgação recente de que tinham sido dadas informações erradas à população durante a campanha para o referendo, pediu a Jeremy Corbyn, atual líder trabalhista, que chame o “desastre” pelo nome: “Inalcançável sem causar danos massivos ao Reino Unido”, escreveu no Twitter.
Também Sadiq Khan, sublinhou, na sua conta no Twitter que a melhor solução para o Brexit é o não-Brexit, ou seja, é a permanência do Reino Unido na UE. “A solução mais clara para este caos governamental é um acordo que proteja tanto o Acordo de Sexta-feira Santa como a nossa economia depois do Brexit – o Reino Unido permanecer no mercado único e na união aduaneira”, escreveu o mayor de Londres.