Os recém-nascidos não precisam de visitas

Além de todas as preocupações inerentes à gravidez e ao nascimento de um bebé, a mãe grávida tem mais uma: como dizer aos amigos e familiares afastados que os quer assim mesmo, bem afastados, nos primeiros dias de vida do filho? A chegada de um bebé é um momento fantástico e também cheio de novidades…

Além de todas as preocupações inerentes à gravidez e ao nascimento de um bebé, a mãe grávida tem mais uma: como dizer aos amigos e familiares afastados que os quer assim mesmo, bem afastados, nos primeiros dias de vida do filho?

A chegada de um bebé é um momento fantástico e também cheio de novidades e preocupações. Os hospitais estão cada vez mais sensibilizados para os benefícios da amamentação em exclusividade, mas para isso têm de assegurar que o recém-nascido está a ser bem alimentado, o que não é fácil porque não há forma de controlar a quantidade de leite ingerida pelo bebé. Assim, muitas vezes é exercida pressão na mãe, que está ainda a descobrir esta nova tarefa; há também bebés que nascem a chorar e parece que nunca mais param; e, por fim, alguns pais querem simplesmente estar a namorar o seu bebé e a descobrir este novo papel. Em qualquer dos casos, sobra pouco tempo e disponibilidade para receber filas de amigos e familiares, por mais queridos e simpáticos que sejam.

Geralmente os pais querem partilhar o feliz acontecimento com a família próxima e amigos mais chegados. Mas talvez prefiram guardar as outras visitas para umas semanas mais à frente.

Aqui geram-se algumas complicações. De um lado estão os que não querem ser indelicados e explicar que, nos primeiros tempos, para ver a carinha laroca do recente membro da família, só por fotografia. Do outro lado há dois tipos de concorrentes à visita do bebé: aqueles a quem nem dá muito jeito ir mas se sentem no dever de o fazer porque acham que os pais ficariam sentidos se não mostrassem intenção de ver a cria nos primeiros dias; e aqueles que entendem que o bebé é de todos e que têm o direito, obrigação e dever de o conhecer mal abra os olhos.

Muitas vezes ainda está a mãe na maternidade desgrenhada e de camisa de dormir meia aberta para dar de mamar de cinco em cinco minutos, a ver-se às avessas com o bebé e desconfortos decorrentes do parto, e tem de fazer a sua melhor cara para receber todo o tipo de visitas. Muitas delas de pessoas com quem não tem a menor intimidade. Nos hospitais públicos, o pai, também ele com horário de visita, chega a ter de sair para que o filho possa estar rodeado de ansiosos espectadores. Será que isto faz sentido?

E depois vêm os beijinhos nas mãos, todos a quererem pegar no minúsculo do bebé, a ansiedade da mãe, a hiper-estimulação do filho. Ao final do dia, em vez da esperada harmonia, estão os pais desesperados e o filho a cantar ópera.

A chegada de um bebé implica mudança, conhecimento, dedicação e namoro. É um tempo mágico e único que deve ser saboreado. Para o bem de todos. Há que ter coragem para explicar simpaticamente que se vai adorar receber aquela visita, mas que primeiro precisam de algum tempo. As pessoas que forem amigas e preocupadas com certeza compreenderão. As que não forem, por essa mesma razão deverão ficar no fim da lista para a adoração ao menino.

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