A sondagem do CIS dá pela primeira vez a possibilidade de o Ciudadanos, do bloco espanholista, disputar o primeiro lugar no novo parlamento catalão com o principal partido independentista, a Esquerda Republicana da Catalunha. Do ponto de vista da distribuição de votos, entre independentistas (ERC, Junts per Catalunya e CUP) e espanholistas (Ciudadanos, PSC e PP) há quase um empate técnico, com uma ligeira vantagem para os primeiros.
A sondagem, no entanto, tem vários pormenores complicados: dá mais votos diretos à ERC (17,1%) e aos Junts per Catalunya (13,7%) do que ao Ciudadanos (13,2%); no entanto, na estimativa feita pelo CIS é calculado que este partido, redistribuindo os eleitores indecisos e aqueles que não respondem, obteria a maior parte dos sufrágios, ficando com 22,5%, contra 20,8% da Esquerda Republicana da Catalunha. A este cálculo do CIS – de dar mais votos ao Ciudadanos, embora tenha tido menos pessoas a dar-lhe o voto na sondagem – não corresponderia obrigatoriamente um maior número de deputados no parlamento catalão, o que beneficia os círculos menos populosos em relação às zonas urbanas, como Barcelona, em que o Ciudadanos tem grande parte do seu eleitorado. Na sondagem publicada a 17 dias das eleições, a ERC teria 32 deputados e o Ciudadanos obteria 31 a 32.
Segundo os resultados deste estudo, o papel-charneira para decidir o novo governo catalão estaria nas mãos da Catalunya en Comú-Podem (coligação eleitoral entre os setores políticos da presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau, e do Podemos), que com os seus previsíveis nove deputados poderiam decidir quem formaria governo: o bloco independentista ou o espanholista.
A sondagem foi feita antes de se saber a decisão do Supremo Tribunal sobre a manutenção na prisão dos governantes catalães e dos líderes dos movimentos sociais pró-independência, Òmnium Cultural e Assembleia Nacional Catalã. Recentemente, o Supremo Tribunal avocou a si todo o processo, pois anteriormente só tinha os dos membros da mesa do parlamento da Catalunha, e, ao fazê-lo, apreciou as anteriores medidas de restrição de liberdade ditadas pela Audiência Nacional.
Nessa decisão, o juiz do Supremo Tribunal espanhol Pablo Larena libertou todos os ministros do governo, exceto o vice- -presidente, Oriol Junqueras, e o ministro do Interior, Joaquim Forn; e manteve também na prisão os líderes do ANC, Jordi Sànchez, e da Òmnium Cultural, Jordi Cuixart.
Apesar de a decisão ser passível de recurso, o juiz justificou a manutenção na cadeia dos quatro independentistas dizendo que a decisão “está diretamente ligada a uma explosão violenta que, a repetir-se, não deixará margem de correção e de satisfação para os que se vejam alcançados por ela”. O magistrado abre assim a porta à acusação de “rebelião” contra os quatro independentistas, ao afirmar que há dados na investigação policial que configurariam a “escalada de uma tensão política violenta (…) persistindo num conflito até que ao Estado não restasse outra alternativa do que aceitar a independência”.
Os outros seis ministros do governo catalão foram libertados contra o pagamento de uma fiança de 100 mil euros cada, implicando também a comparência semanal perante as autoridades judiciais, a entrega do passaporte e a garantia de que não se ausentarão para o estrangeiro.
Antevendo a decisão da justiça, no passado fim de semana, cerca de 55 mil pessoas assistiram a um concerto em Barcelona para recolher dinheiro para o pagamento das fianças dos presos políticos.