Uma revolta na bancada conservadora britânica resultou esta quarta-feira numa inesperada derrota para o governo de Theresa May e para a sua estratégia de corte com a União Europeia.
Onze deputados conservadores ignoraram os pedidos da primeira-ministra, resistiram a tentativas de conciliação de última hora e aliaram-se à oposição para, juntos, aprovarem uma lei que determina que o governo não tem toda a autoridade para determinar os termos do divórcio europeu e que os deputados da Câmara dos Comuns precisam de dar luz verde ao acordo.
Entre as exigências de responsáveis europeus, as ansiedades do eleitorado britânico e o nervosismo dos governos regionais irlandês e escocês, Theresa May e o seu governo ficam agora com ainda menos espaço de manobra para negociar.
A votação desta quarta à noite em Westminster deu-se além do mais na véspera da cimeira europeia de hoje, na qual May deveria surgir revigorada pelo facto de as negociações com Bruxelas terem finalmente passado à segunda fase – os 27 líderes devem aprovar na mesma a última versão do acordo e autorizar que as negociações avancem para os temas da transição pós-Brexit e a relação futura do Reino Unido com Bruxelas.
“Trata-se de uma derrota humilhante para a autoridade do governo em vésperas da reunião do Conselho Europeu”, disse esta quarta o líder da oposição e dos trabalhistas, Jeremy Corbyn. “Theresa May vem resistindo às tentativas de assumir responsabilidade democrática. O facto de ter vindo a ignorar os outros significa agora que tem de aceitar que o Parlamento quer voltar a ter controlo.”
A rebelião começou com uma amenda à lei do Brexit proposta esta quarta pelo antigo procurador-geral Dominic Grieve e que rapidamente se alastrou para outros ex-ministros e responsáveis conservadores, como à antiga secretária da Educação, Nicky Morgan, ou à ex-ministra da Economia, Anna Soubry.
O ministro britânico do Brexit, David Davis, tentou dissuadir a revolta com uma mensagem aos deputados, garantindo que a Câmara dos Comuns terá sempre voto na matéria da decisão final e que qualquer acordo com Bruxelas ficará sujeito a escrutínio parlamentar. A nota não convenceu e o governo de Theresa May tentou como alternativa avançar com a sua própria emenda, mais a seu gosto.
Mas também isto não foi suficiente. “É demasiado tarde”, disse Grieve, juntando-se aos trabalhistas.
O “Guardian” escrevia esta quarta que alguns dos conservadores rebeldes votaram contra o governo sobretudo para enfraquecer Theresa May, que desde as últimas eleições vem-se equilibrando com dificuldade no poder e em oposição à ala mais eurocética do partido.
As repercussões nos conservadores fizeram-se sentir logo depois dos votos contados (309 contra 305): Stephen Hammond, um dos deputados que desafiou a vontade do governo foi demitido do cargo de vice-presidente do partido.