Depois de três anos estáveis, as emissões globais de gases com efeito de estufa provenientes de combustíveis fósseis aumentaram em 2017, revelou um estudo publicado à margem da 23.ª conferência sobre clima da ONU, realizada em novembro.
O carvão continua a ser um dos combustíveis fósseis mais utilizados. Em Portugal, existem duas centrais elétricas a carvão, que produzem uma grande fatia da eletricidade do país. Quais são os impactos para a saúde?
A iniciativa Beyond Coal, lançada em novembro, oferece o último retrato a nível europeu. Conscientes dos impactos do carvão, grupos da sociedade civil e cidadãos de 28 países europeus uniram-se para lançar o projeto e contabilizaram os efeitos das centrais termoelétricas na União Europeia. O objetivo é reunir argumentos para acelera a transição do carvão para energias renováveis, mais limpas.
Segundo dados estimados a partir das nas emissões das centrais a carvão europeias, em 2015, a poluição resultante das centrais elétricas movidas a carvão foi responsável, na União Europeia (UE), por 19.500 mortes prematuras. A poluição provocada pelo carvão causa problemas de saúde como acidentes vasculares cerebrais (AVC), asma e bronquite. Na UE, estima-se ter estado por trás de 10 mil casos de bronquite crónica, 458 mil ataques de asma em crianças. O impacto no absentismo laboral também é significativo: ao todo, o Beyond Coal calcula um total de 5 milhões e 934 mil dias de trabalho perdidos e 12.600 admissões em hospitais relacionadas com as emissões poluentes das centrais de carvão.
A iniciativa disponibiliza mesmo dados detalhados por país e Portugal não fica fora da fotografia, já que detém centrais elétricas a carvão, uma em Sines e outra no Pego. Os números são bastante inferiores aos dos países que mais sofrem com os efeitos do carvão, mas nem por isso menos preocupantes: em 2015, o Beyond Coal calcular que as duas centrais tenham contribuído para 140 mortes prematuras no país, 90 casos de bronquite crónica, 4,000 ataques de asma em crianças, 46.000 dias de trabalho perdidos e 150 hospitalizações. Segundo a mesma estimativa, estes impactos na saúde tiveram um custo de 389 milhões de euros na economia portuguesa.
Apesar de Portugal não figurar entre os países que têm as centrais mais “tóxicas” para a saúde, surge no top 30 nas centrais mais poluentes. A central de Sines, com 7,32 milhões de toneladas de CO2 emitidas em 2016, surge mesmo mesmo no 18.º lugar do ranking – as suas emissões terão estado na base de 95 mortes prematuras em 2015.
No que diz respeito a emissões, Portugal emitiu, já em 2016, 2% do CO2 proveniente das centrais elétricas a carvão a nível europeu. A Alemanha, maior poluente, contribui com uma fatia de 38%. E, só neste países, calculam-se 3840 mortes prematuras em 2015.
Um futuro sem carbono O mapa desenhado pelo projeto está atualizado: reconhece que Portugal prevê extinguir as centrais a carvão até 2030, compromisso que o ministro do Ambiente assumiu durante a cimeira da ONU. “Em 2030 não existirá produção de eletricidade em Portugal a partir do carvão”, garantiu João Matos Fernandes.
A luta pela descarbonização da economia portuguesa promete seguir outras vias . Foi lançado este ano o Roteiro Para a Neutralidade Carbónica 2050, uma iniciativa no âmbito do Acordo de Paris que pretende alcançar a descarbonização da economia portuguesa até 2050. Já em 2018, será feita “uma análise aprofundada da fiscalidade sobre os combustíveis, de forma a serem devidamente internalizados os impactos ambientais associados à sua utilização”, anunciou o primeiro-ministro António Costa em outubro, na apresentação da iniciativa.
A taxa de carbono promete ser um instrumento fundamental na estratégia do governo. “Só com um preço de carbono forte se operará esta transição”, disse António Costa.
No mesmo dia em que o governo lançou o este roteiro, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável mostrava-se “preocupada com o impacto significativo da má qualidade do ar em Portugal”. e Alertou para o contributo significativo da circulação automóvel, que, em termos de poluição, é o que representa mais riscos para a saúde. Lisboa, Porto e Braga são as cidades com níveis de CO2 mais preocupantes, com destaque para a Avenida da Liberdade, em Lisboa, a região da estação de monitorização Francisco Sá Carneiro/Campanhã, no Porto, e a zona da estação de monitorização de Frei Bartolomeu Mártires – São Vítor, em Braga. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, a poluição causa até 6630 mortes prematuras por ano em Portugal. O carvão não é o principal perigo, mas faz parte do problema.