O candidato democrata Doug Jones venceu as controversas eleições desta semana no Alabama e encurtou a ténue maioria republicana no senado para 51 assentos contra 49, derrubando um candidato republicano pejado de escândalos e suspeitas de assédio e violência sexual contra menores, derrubando a vontade de Donald Trump e reduzindo substancialmente a margem de manobra dos conservadores no Congresso. Subitamente, os democratas americanos vão pensando que já não é impossível recuperarem o controlo de ambas as câmaras nas eleições intercalares do próximo ano. A confirmar-se, Trump e o PartidoRepublicano perdem muito do seu poder. Primeiro, porém:a corrida.
Doug Jones venceu, sim, mas é o derrotado, o ultraconservador e fundamentalista cristão Roy Moore, quem melhor explica a história desta corrida extraordinária – primeiro, porque foi controversa e, segundo, porque foram, de facto, eleições especiais, estando em jogo o lugar que Jeff Sessions deixou vago ao passar para Procurador-Geral de Trump. Moore navegou desde o início da campanha contra o seu partido e Presidente, derrotando o candidato das primárias apoiado por Washington e ao longo do caminho desafiando a sanidade e coerência do movimento conservador americano.
Se o antigo juiz começou a corrida como um nome profundamente radical, defendendo que a Bíblia tem mais importância que a Constituição americana, que os comportamentos homossexuais devem ser ilegais e que pessoas muçulmanas não devem deter cargos públicos – citando apenas alguns exemplos –, a sua campanha tornou-se ainda mais bizarra no momento em que o Washington Post noticiou que Moore teve relações com raparigas menores quando estava na casa dos 30 e era procurador no Alabama, e, mais tarde, que assediou e, num caso, pode mesmo ter atacado sexualmente uma menor.
Moore recusou-se a abandonar a corrida, os republicanos, depois de alguma hesitação, apoiaram-no no final da campanha, e o próprio Donald Trump recomendou o voto nele e defendeu-o em público. Jones, no entanto, venceu, em parte com apoios de grandes nomes conservadores estatais que repudiaram Roy Moore – não com uma grande margem: 1,5%, 49,9% contra 48,4%. «Estas eleições foram sobre dignidade e respeito», disse Jones na noite de vitória, «esta campanha foi sobre o Estado de Direito.»