Era o dia de aniversário de Paula Brito e Costa e a ex-presidente da Raríssimas chegou-se de forma repentina ao pé de um grupo de pais que estava na receção da instituição da Moita e tirou uma selfie. «Nem nos deu tempo de dizer se queríamos ou não», contava ontem ao SOL Margarida Laygue, mãe de um dos utentes da Casa dos Marcos, que nunca foi apresentada à ex-presidente e apenas se cruzava com ela nos corredores.
Margarida recorda ter por várias vezes assistido às singularidades de Paula Brito e Costa – que, segundo os funcionários, não vai à instituição desde segunda-feira, apesar de o único carro estacionado dentro dos portões ser o que costumava conduzir. Margarida lembra-se especialmente da sua atitude com os funcionários, tendo mesmo chegado a dizer na receção que considerava inapropriado que o pessoal se levantasse à passagem da ex-presidente. Mas o que importa agora, diz esta mãe, é «saber separar as águas e não deixar que os utentes e os funcionários sofram as consequências de ações pelas quais não têm de responder».
Essa é a opinião geral que expressam ao SOL outras mães, funcionários e moradores da zona, que se confessam apreensivos com o futuro da associação e para quem essa é a verdadeira preocupação agora.
«Se a Casa dos Marcos fechar, não tenho onde pôr o meu filho», desabafa outra mãe que não quis ser identificada e cujo filho foi uma das primeiras crianças a ingressar na instituição, inaugurada em 2014. Elogia o trabalho dos técnicos, que são «incríveis», e pede ao governo que salve a Casa, «única no país».
Entre os funcionários, a maioria está receosa e não quer falar. Aqueles que falam, recusam identificar-se. «Assisti a situações de tensão com colegas meus, mas eu não tenho nada a dizer dela», diz uma funcionária. «As intenções da Dra. Paula eram boas e conseguiu grandes vitórias aqui, mas depois alguma coisa correu mal e descarrilou. Talvez o dinheiro lhe tenha subido à cabeça, ela é de famílias humildes…», acrescenta.
Para esta mulher, a maior necessidade é que venha agora «alguém competente» e que «o governo esteja atento, porque a Casa é uma família e os meninos precisam muito disto».
Outra mulher diz muito com poucas palavras – «sou empregada da limpeza aqui, víamos tudo e não víamos nada».
Algumas horas à porta da Casa chegam para perceber parte das necessidades. Uma carrinha traz fraldas e pensos, outra revela uma oferta feita já desde a criação. «Venho oferecer bolos aos meninos para o Natal. Nunca me cruzei com a senhora, mas a associação faz um bom trabalho e faz falta a estas crianças», diz um responsável da Confeitaria Perdigão. Mais tarde chega uma carrinha dos Bombeiros da Moita, que fazem o transporte de doentes para vários fins, como consultas médicas. Nas instalações dos Bombeiros, imediatamente atrás da Casa dos Marcos, a secretaria garante ao SOL que este serviço – pago – «tem as contas em dia».
Nas imediações da Casa, ninguém está indiferente ao escândalo. A funcionária do café mais próximo admite que «não se fala doutra coisa aqui no bairro». Foi uma surpresa, diz, mas também ela nota que agora é preciso que alguém olhe pela instituição.
Uma mulher que por ali vive há 40 anos pede o mesmo: «Cruzei-me várias vezes com crianças e estavam sempre bem tratadas. Por favor não deixem que a Casa feche».