A história do PPD e do PSD está recheada de quase desaparecimentos. Até por ter preferido irmanar-se à sociedade (e esta é naturalmente mais mutável que o Estado, irmanado ao outro partido), o centro-direita em Portugal, que também não se agregou consistentemente a uma base conservadora, é vulnerável ao seu ambiente. Essa vulnerabilidade conduziu à consecutiva apresentação de sentenças de morte – depois sempre por confirmar, seja por ‘pântanos’, seja por ‘Troikas’ –, às quais o partido sobreviveu por duas razões: incompetência alheia e implementação local. Durante os primeiros anos do atual Governo, o PSD, na Oposição, não beneficiou do primeiro (a incompetência alheia) e pouco mantinha do segundo (a implementação local). Desde as autárquicas de 2017, o partido perdeu o que restava do segundo e vislumbrou um pouco do primeiro. Perderam-se os municípios que serviam de salvaguarda estrutural ao PSD; ganhou-se uma perspetiva sobre um Executivo (do PS) com novas debilidades. Ora, isso não é suficiente para ganhar legislativas.
A uniformização de políticas impostas pela União Europeia fez com que a tarefa de ser Oposição aos partidos do arco-de-governação se tornasse mais difícil para os partidos pertencentes a esse arco. Quando os moderados não diferem, os radicais destacam-se. Não tem assim tanto a ver com ideologias ou lideranças: Rio fala em investimento e exportações, como Passos falou em investimento e exportações, como Costa fala em investimento e exportações. Ao contrário do publicado recentemente no semanário Expresso, a mim não me parece que sejam os dois candidatos à liderança do PSD que não conseguem defender coisas diferentes, mas sim o PSD e o PS que estão a defender as mesmas coisas.
Não havendo alternativas entre quem está ao ‘centro’, prejudica-se a alternância dentro desse ‘centro’. A partir do momento em que PSD e PS adoptaram igualmente o rigor orçamental e a reposição de rendimentos como objetivos, meramente divergindo no tempo dessa reposição e na agressividade do spin, a capacidade para gerar projetos alternativos (e não eleitoralmente irresponsáveis) esmoreceu.
Foi assim que António Costa não conseguiu ganhar em 2015, foi assim que Passos Coelho não conseguiu fazer Oposição até 2017 e é assim que dificilmente o centro-direita vencerá as próximas legislativas em Portugal. A uniformização de políticas, por mais responsáveis que sejam, favorece os incumbentes que as exercem. E essa uniformização pode matar o PSD.
Em Bruxelas, deveria pensar-se mais nas consequências que alguns dogmatismos desenvolvem nos sistemas políticos de cada Estado-membro – nomeadamente no aumento da abstenção, no surgimento populista e na instabilidade causada pela extinção de maiorias absolutas, que são temas que dariam para todo um outro texto. Sem querer apresentar outra sentença de morte injustificada, este é um aviso que gostaria de deixar aos oposicionistas. É preciso fazer mais para fazer diferente. Não deixando de cumprir, mas não deixando de pensar. Ou ganhará quem está.