«I <3 Lx. Luz, Tejo, Fado»

Nesta época de Natal, ofereço-vos uma frase sobre Lisboa – «Lisboa com seu nome de ser e de não-ser», nas palavras poéticas de Sophia de Mello Breyner Andresen – e aproveito para desejar a todos um Feliz Natal.

Nesta mensagem, pintada numa parede em Lisboa, transmite-se o amor por esta cidade: «I © Lx / I © Luz, Tejo, Fado». E, com esta frase, o autor resume tudo aquilo de que mais gosta em Lisboa – gosta da luz, gosta do rio Tejo, gosta de fado. De tanto gostar, talvez até quisesse ser, como diz Ana Hatherly, dirigindo-se a Lisboa: «o terceiro corvo do teu emblema…»

Ora, a luz de Lisboa tem sido, muitas vezes, objeto de poemas, de romances, de artigos, de pinturas. Trata-se de uma luz especial, a de uma cidade cuja arquitetura e disposição das casas reflete para lhe dar uma aura diferente. E a magia da luz é bem visível nas fotografias, nos filmes ou, mesmo, simplesmente, ao olhar de quem vê a cidade a partir de um miradouro e a vê, nas palavras de Alberto de Oliveira, como a «Cidade da Luz!»

Também o rio Tejo contribui para que a luz refletida na água torne Lisboa uma cidade especial, uma «Cidade prateada / semeada / de Tejo», nas palavras de Adília Lopes. Mas o próprio rio tem o seu encanto. Ao separar duas margens, une duas perspetivas diferentes da cidade. E uma cidade com rio é logo, à partida, uma cidade especial, uma cidade com um encanto especial. A presença da água, deste elemento líquido, que com a cidade estabelece uma relação maternal, é como o líquido amniótico que embala a cidade e embala os seus cidadãos.

Por fim, o fado, que não existe só em Lisboa, é um outro traço distintivo da cidade, que ecoa no ar. Como disse Ary dos Santos: «E no bairro mais alto do sonho / Ponho o fado que soube inventar»…

Subir a Rua do Carmo e ouvir fado (que, no fundo, vem de uma carrinha aí estacionada, que vende discos) é uma experiência única, uma experiência quase mágica. É certo que há fado em muitos outros locais – em casas de fado, em algumas tabernas típicas, no rádio, onde quisermos – mas esta experiência a que me refiro é mesmo especial, até para quem não é apreciador deste tipo de música.

E, assim, estes três elementos referidos pelo autor da pintura na parede constituem efetivamente três características de Lisboa, dessa cidade que ama, e que Sophia de Mello Breyner Andresen tão bem descreve no poema: «Aqui e além em Lisboa – quando vamos / Com pressa ou distraídos pelas ruas / Ao virar da esquina de súbito avistamos / Irisado o Tejo: / Então se tornam / Leve o nosso corpo e a alma alada».

É, pois, com essa «alma alada» que os portugueses partem para outras paragens. Como diz Alberto Caeiro: «Pelo Tejo vai-se para o Mundo».

Lisboa é na verdade uma cidade com características únicas, com uma localização única e que, tal como o Porto, tem tido cada vez mais aceitação nos circuitos comerciais.

Realmente, para nascer não há como Portugal!

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services