“O termo ‘nacionalismo’ é complicado. Se pudesse atrasar o relógio 90 anos, até à formação do meu partido, não escolheria o nome atual, mas outra coisa qualquer”. As palavras são de Nicola Sturgeon, líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), foram proferidas num discurso, em agosto, no Festival Literário de Edimburgo, e escolhidas para defender que o seu partido não se revê nas “conotações negativas” associadas à palavra. Tal esclarecimento não desvia, no entanto, o SNP da sua missão principal: guiar a Escócia à separação do Reino Unido.
Vencedora das duas guerras da independência (1296-1328 e 1332-1357) com a Inglaterra, a Escócia viu-se integrada com a coroa inglesa no início do século XVII e 100 anos mais tarde foi mesmo incorporada no Reino Unido da Grã-Bretanha, instituído com o Tratado da União (1707).
O objetivo secessionista nunca chegou a esmorecer, ganhou redobrada pujança ao longo de todo o século XX e depois de uma série de triunfos com vista a uma maior autonomia, teve uma grande oportunidade para se cumprir, quando Londres deu luz verde à realização de um referendo à independência, em setembro de 2014. Mas em vão. 55,3 % dos escoceses votaram contra a separação do Reino Unido e 44,7% a favor da mesma, e a Escócia permaneceu integrada na associação britânica.
O desfecho do referendo parecia indicar que a aspiração independentista iria ficar trancada numa gaveta, durante uns bons e largos anos, e, para além disso, fazia prever um esmorecimento das hostes nacionalistas escocesas. O resultado sensacional do SNP nas eleições legislativas de 2015 – venceu 56 dos 59 círculos eleitorais escoceses, aumentou a sua representação parlamentar em 50 (!) deputados e afirmou-se como terceira força política em Westminster – veio, no entanto, legitimar o caminho trilhado pelos nacionalistas e manter a principal pretensão do seu partido à tona da água. Pretensão essa que regressou em força na ressaca do referendo britânico à Europa, em 2016 – na região escocesa o “não” ao Brexit venceu de forma clara: 62% contra 38% –, levando Nicola Sturgeon a anunciar ter um “mandato político poderoso” para voltar a falar em independência.
O raciocínio da líder do SNP pode ser explicado de uma forma bem inteligível: o Reino Unido decidiu pelo Brexit; na Escócia imperou o “não” à saída; a Escócia quer ficar na UE; logo, a Escócia quer ser independente. Agarrada à praticabilidade do mesmo, Sturgeon conseguiu o apoio do parlamento autónomo escocês, em março deste ano, para negociar com Londres a realização de um novo referendo à independência, algures entre o final de 2018 e 2019 – precisamente antes da saída do Reino Unido da UE. Mas May rejeitou.
O SNP não desistiu das datas propostas e entrou na campanha para as eleições antecipadas de junho, resoluto em receber nova legitimação do eleitorado para avançar com o referendo. Desta vez, porém, o risco não compensou. Os nacionalistas escoceses perderam 21 deputados e Sturgeon foi aconselhada a refrear os seus esforços, a retardar a consulta à independência para inícios de 2020, e a focar-se no combate à austeridade, na promoção do seu programa político e na defesa do melhor acordo possível, na ótica escocesa, entre o May e a UE.