Desde que a pressão europeia impôs um discurso bastante similar entre os dois maiores partidos portugueses – o PS e o PSD –, que os ciclos políticos se tornaram mais curtos, mais pequenos, mais breves. A ausência de grandes contrastes programáticos, centrando a prática nos mesmos meios (exemplo, exportações) e nas mesmas metas (exemplo, défice), aumentou o protagonismo do instantâneo (exemplo, o spin). Essa uniformização de discurso – e o modo como beneficia os governos incumbentes contra as oposições – foi o último tema desta coluna, que pretendeu explicar as dificuldades que o PS teve para vencer em 2015, que o PSD teve para lhe fazer oposição até 2017 e que o centro-direita deverá ter nas próximas legislativas.
Atualmente, esse centro-direita julga encontrar-se a decidir o homem que enfrentará António Costa nessas eleições, agendadas para 2019: Rui Rio ou Pedro Santana Lopes.
Antes, convém recordar que muitos – incluindo o próprio, os seus próximos e este jornal – também acreditaram que Pedro Passos Coelho seria o candidato do PSD em 2019. Tendo recebido mais votos que Costa no ato eleitoral antecedente, possuía direito natural à tentativa. Como é sabido, não foi assim. O referido encurtamento dos ciclos políticos impossibilitou-o. E é por isso com cautela que se deve olhar o futuro do próximo líder do PSD. Se foi um erro promulgar previamente a imunidade de Passos Coelho aos resultados das autárquicas, seria erro idêntico descartar a importância das eleições regionais e das eleições europeias que antecedem as próximas legislativas.
Alguém julga, honestamente, que o primeiro líder na história do PSD a perder a Madeira para o PS (e um acordo das esquerdas sob Paulo Cafôfo proporcioná-lo-ia), com um resultado abaixo dos 25% nas europeias, teria condições para enfrentar António Costa? Eu duvido. Os ciclos estão mesmo mais curtos. A fuga de candidatos à sucessão a Passos Coelho também derivou dessa noção.
Não sendo segredo que a maioria olha Rio e Santana como líderes de transição, não é despiciendo perguntar: meus caros, de transição para onde, para quando?
Com as crescentes dificuldades em fazer oposição ao Governo (apesar das suas consecutivas trapalhadas) e o já mencionado acelerar de cada conjuntura, há duas características fulcrais para um líder da Oposição que queira (e consiga) ser também candidato a primeiro-ministro: novidade e personalidade. A ‘novidade’ porque o tal encurtamento temporal dos ciclos políticos assim o exige. A ‘personalidade’ porque a tal uniformização europeísta a isso nos resume. Pedro Santana Lopes tem uma, mas não tem a outra; Rio nunca teve nenhuma das duas. Hoje, é mais arriscado escrever que um deles chegará a ser candidato a primeiro-ministro do que presumir o contrário.