Resgatar o Natal

Há já algum tempo que o Natal deixou de ser só uma época de amor, paz e alegria para se tornar stressante e até extenuante em algumas situações. A corrida aos presentes sempre tardia, em lojas demasiado cheias, em que já não há nada do que queremos, e o que há tem um preço mais…

Há já algum tempo que o Natal deixou de ser só uma época de amor, paz e alegria para se tornar stressante e até extenuante em algumas situações.

A corrida aos presentes sempre tardia, em lojas demasiado cheias, em que já não há nada do que queremos, e o que há tem um preço mais elevado do que gostaríamos de gastar, está muito longe de representar o espírito natalício.

Ainda esta semana, quando me deparei com filas intermináveis de carros com pessoas a apitar e a insultar-se e lojas cheias de gente mal-humorada pensei que nada daquilo fazia sentido. As culpas são sempre atiradas para a sociedade de consumo em que vivemos, mas a sociedade é feita por nós e cabe também a cada um modificá-la se assim o entender. Para começar, ninguém é obrigado a dar presentes e também ninguém é obrigado a fazer compras nos últimos dias antes do Natal.

Sempre adorei acordar no dia 25 de manhã e encontrar a chaminé repleta de presentes. Mesmo que muitos fossem mais utilitários ou insignificantes, a festa de cores e formas de papéis de embrulho com laços deixava-me em júbilo.

Precisamente porque adoro o Natal, entristece-me a forma como é vivido hoje em dia. Todos os anos, mal acaba o Verão começam a ser colocadas as iluminações e muita gente critica: ‘Cada ano é mais cedo! Qualquer dia põem as luzes em Agosto!’. Todos os anos se ouve também: ‘Ir às compras nas vésperas de Natal é horrível! Um pesadelo! Isto é tudo menos Natal! Para o ano começo mais cedo’. Bom, talvez então as luzes cheguem na altura certa e nós é que estejamos a fazer as compras tardiamente. 

A época natalícia devia ser gozada com tempo, para se começar a pensar em cada pessoa de quem gostamos com dedicação e a procurar presentes, se for o caso, com maior vontade do que sentido de obrigação. Deveríamos entrar nas lojas e encontrar pessoas bem-dispostas por terem um trabalho e poderem estar a prestar um bom serviço nesta quadra.

Que este ano possa haver uma maior alegria, respeito e tolerância de todos. Que na véspera e dia de Natal as famílias que percorrem o país e o mundo para estarem juntas possam encarar estas viagens intermináveis como uma bênção por terem uma família com quem passar o Natal – e que haja também compreensão das que não saem de sua casa para com os atrasos ou falta de comparência. Que as viagens possam ser feitas com prazer e em segurança.

Que familiares que estão de relações cortadas parem para pensar e analisar a razão das discórdias e perceber que não há nada mais importante na vida do que o calor dos outros.

E finalmente, que possamos seguir o exemplo das crianças e esperar com ansiedade e regozijo o dia do ano em que se faz magia e comemorar o nascimento do amor e da paz que tanta falta nos fazem.

Com esta lista para o menino Jesus e para o Pai Natal, para que possamos recuperar e viver o espírito natalício (mas sem abdicar daquele casaco maravilhoso que pedi ao meu marido), desejo umas Boas Festas no calor e na memória dos que vos são mais queridos.

 

filipachasqueira@gmail.com