O maior desde os Beatles?
Exagero? Certamente. Aliás, a história tratou de o declarar de forma veemente.
Mas a música estava orfã.
Os quatro de Liverpool tinham deixado os palcos e os vinis. Eram cada vez mais uma saudade.
E então apareceu este tal de Marc Bolan. Ninguém o inventou, diziam os jornais. Nem a ele nem ao seu grupo Tyranossaurus Rex: T-Rex.
“Não somos um produto dos jornais. Não somos um produto do marketing. Somos sinceros! Autênticos!”.
Recados?
Ficou-se por saber.
Isto que atrás fica escrito remete para 26 de dezembro de 1971.
Os T-Rex tinham acabado de gravar um programa para a ITV. Cá fora, à espera, um espectáculo digno de John, Paul, George e Ringo. “As rapariguinhas gritaram, suspiraram, agonizaram. E foram ameaçadas pela polícia de serem dispersadas se continuassem com o histerismo. As fans de Marc espiolham todos os carros que se supõem ter sido utilizados por ele, lutam por cada ponta de cigarro que possa ter sido tocada pelos seus lábios, adoram a sua vasta cabeleira ondulada”.
Por falar em carros…
No dia 16 de setembro de 1977, Marc Bolan e a namorada, a cantora Gloria Jones, saíram de um bar do West End, em Londres.
Marc tinha fobia de conduzir. Apesar de muitas das suas canções versarem sobre automóveis.
Coisas típicas de estrela.
Por isso, Gloria sentou-se ao volante de um Mini 1275 GT, inacreditavelmente roxo.
A viagem seria curta.
Um exagero de velocidade, falta de perícia: Gloria perde o controlo e o pequeno Morris desfaz-se contra uma árvore.
Um jornal titulou: “Marc Bolan foi para o espaço!”.
Afinal era do espaço que ele parecia ter vindo…
Milhões! Nesse ano de 1971, os T-Rex venderam seis milhões de singles e mais de um milhão de álbuns. “Jeepstairs” foi um sucesso universal. “Marc é T-Rex. As músicas são suas. Ele escreve um simples e agradável rock-and-roll no qual coloca palavras envoltas num encantador misticismo. Os Beatles foram os primeiros a reconhecer a sua qualidade. E não tiveram pejo em reconhecer que ele pode estar na esteira da sua sucessão”.
Até os Beatles exageravam?
O fenómeno Marc Bolan foi efémero.
De 1971 a 1973 foi um caso raríssimo de popularidade em Inglaterra.
O seu rival era David Bowie.
Uma explosiva mistura de álcool, cocaína e anfetaminas afastou-os de forma definitiva.
Quem diria que aos 17 anos, Bolan se tinha lançado numa carreira ao estilo meloso de Cliff Richard? “All at Once” foi uma balada monótona e, nesse tempo, Marc tinha o cabelo curto e penteado como um moço bem comportado de um colégio britânico.
Mais tarde lançar-se-ia freneticamente num rock pré-apocalíptico que ameaçava a destruição da Terra por guerras nucleares e o aparecimento de seres de outros planetas em invasões sem quartel.
“Bang a Gong (Get it On)”, terá sido a sua canção mais famosa.
Depois, a pouco e pouco, o mundo veio a esquecê-lo.
Aquela curva da estrada mudou, de alguma forma, a história da música.
Sobrou um Mini roxo despedaçado contra uma árvore inabalável…