Um homem de 46 anos baleou ontem mortalmente a mulher em Salvaterra de Magos, suicidando-se de seguida. A mulher tinha 45 anos e trabalhava na empresa de transportes Running & Flying no departamento administrativo, onde o crime aconteceu.
O casal encontrava-se em processo de separação e era oriundo de Santarém, segundo avançou o “Diário de Notícias”. De acordo com a “Rede Regional”, deixam dois filhos menores.
Em resposta ao alerta, os bombeiros de Samora Correia e de Salvaterra de Magos, bem como o INEM, foram chamados ao local. Também a GNR e a Polícia Judiciária se dirigiram ao lugar do crime para apurarem o sucedido. As autoridades foram alertadas depois de testemunhas próximas do local terem ouvido disparos pelas 13h27, segundo o Comando Distrital de Operações de Santarém à Lusa.
O crime, que deixou a população em choque, surge no fechar de um ano em que os números de feminicídios em Portugal baixaram.
Entre 1 de janeiro e 20 de novembro, 18 mulheres foram assassinadas por homens com quem tinham relações de intimidade e familiares próximas, segundo o relatório preliminar da UMAR e do Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA). É o número mais baixo dos últimos 14 anos. Foram ainda registadas 23 tentativas de feminicídio no mesmo período.
Ainda assim, João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, prefere esperar pelos números oficiais. “Não há nesta altura valores [oficiais] para os números de 2017, ou seja, não se sabe exatamente se aumentou ou diminuiu”, disse. “Regra geral andam entre os 20, 25, 26 por ano, um número que todos os anos ronda os 25% do número total de homicídios no país”, salienta Lázaro, alertando assim para a importância destes fenómenos no universo dos homicídios.
Para o responsável, qualquer vida conta e o mínimo intervalo é significativo: “A diferença entre 20 e 25 faz toda a diferença. Estamos a falar de vidas de pessoas que são ceifadas.”
As mulheres assassinadas às mãos dos seus cônjuges foram, em 41% dos casos, vítimas de violência doméstica antes de morrerem. Feminicídio e violência doméstica são, de acordo com o OMA, dois fenómenos intimamente relacionados.
No ano passado, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna, foram feitas 22.773 participações pelo crime de violência doméstica, uma subida de 1,4% face ao ano anterior.
Como o SOL noticiou este fim de semana, até ao final de novembro o INEM recebeu 1872 pedidos de socorro em contexto de agressões em relações íntimas ou familiares. Números que não representam uma diminuição, mas sim uma consolidação. Mas também pode significar que há menos vergonha em pedir ajuda. “Os números de violência doméstica – e falamos sobretudo de violência contra as mulheres – não têm sofrido uma diminuição, mas pelo menos têm tido uma consolidação. Essa leitura da consolidação – mesmo que muitas vezes aumente – também tem uma leitura positiva no sentido de as pessoas tolerarem cada vez menos a violência, o que faz com que participem às autoridades – o que já aqui revela uma maior confiança nas autoridades”, afirma Lázaro. “Esses números significam que existe uma menor ocultação da realidade”, acrescenta.
O número de casos de feminicídio tem vindo a diminuir desde 2013. Contudo, são ainda bastante elevados: em 2014 foram assassinadas 40 mulheres, em 2015, 25 e, em 2016, 29. Entre 2004 e 2013, 356 mulheres foram assassinadas em contexto de violência doméstica.