O que é que fazia se estivesse a dar uma festa e de repente precisasse de cem caipirinhas? Até há bem pouco tempo, se não tivesse os ingredientes à mão, o mais provável era ter de desistir da ideia. Nos últimos meses tudo mudou e hoje podia pedi-las a um dos muitos serviços de entregas ao domicílio que invadiram Lisboa e o Porto. E não estamos a exagerar: este foi um dos pedidos mais invulgares que já fizeram por exemplo à SendEAT, aplicação de origem portuguesa que trata deste tipo de necessidades.
Quem o conta é José Luís Gramaxo, um dos fundadores da empresa que nasceu no Porto em 2016. Gramaxo e o sócio Tiago Oliveira viveram no estrangeiro e estavam descontentes com as soluções de entrega de comida existentes no mercado nacional, por isso quiseram criar “um serviço de entregas rápidas e transparentes, mantendo o estado de arte da comida”. Por agora, a aplicação só funciona ao almoço e ao jantar, mas em breve o horário será maior – das 11h30 às 24h. A procura assim o justifica: estão a crescer “quase 50% a cada mês”, explica o fundador.
José Luís Gramaxo reconhece que serviços como a SendEAT são “uma tendência que está a ser criada no mercado” e espera que, no futuro, a empresa seja “um lifestyle product que fará parte das escolhas iniciais das pessoas”, ao contrário de ser “apenas uma solução para os problemas de não querer jantar fora ou não querer cozinhar”. A aplicação conta já com clientes habituais, que encomendam todos os dias ao almoço e ao jantar, e na lista dos mais pedidos figuram a comida saudável, o sushi, os hambúrgueres, a comida italiana e a comida indiana.
Para além das pizas Se num passado não muito distante era possível encomendar apenas pizzas, nos últimos anos a oferta diversificou-se. Para além da SendEAT, através de serviços como Glovo, NoMenu ou UberEATS é possível receber, em casa ou no trabalho, pratos de qualquer cozinha. E mais: a Glovo, por exemplo, entrega tudo o que o cliente precisar e até tem a opção ‘qualquer coisa’, que permite especificar o pedido – que pode mesmo ser quase tudo o que quiser, desde que respeite as medidas de 40x40x30cm e pese até 9 kg.
“A Glovo recebe todo o tipo de pedidos, desde a compra e entrega de refeições à recolha e entrega de documentos”, explica ao i José Félix, responsável nacional da Glovo Portugal. A empresa foi lançada em Lisboa em outubro de 2017 mas a capital já figura entre as cidades onde a adesão mais tem aumentado. O segredo é a alma do negócio, por isso não há números. Mas as expectativas são altas. “Esperamos fechar o mês de dezembro praticamente duplicando o volume do mês anterior”, acredita José Félix.
Segundo o responsável, o serviço já tem “muitos utilizadores que são clientes recorrentes” que fazem até “vários pedidos diários”. “O serviço traz-lhes a conveniência de que necessitam no dia-a-dia”, acrescenta. Uma vez que a Glovo entrega muito mais do que comida, Félix assume não ser possível apontar as tendências maiores entre os pedidos, ainda que, a nível de categorias, a restauração esteja em primeiro lugar.
É ao fim de semana e ao jantar que os serviços da Glovo são mais requisitados, apesar de receber pedidos ao longo de todo o dia – o horário de entregas é das 10h às 24h.
Entre os pedidos mais extravagantes que já receberam está o de uma pessoa “que queria dar um jantar em casa com um menu de degustação de fast food e solicitou a vários glovers – os estafetas da aplicação – produtos estrela dos restaurantes de fast food emblemáticos da cidade”. Muito mais recorrentes são “os pedidos de fraldas e leites de bebé fora de horas. Temos mesmo histórias de glovers que não desistem até encontrar o leite específico para acalmar o bebé e os pais”, conta.
Entre as empresas dedicadas em exclusivo às entregas de comida está a portuguesa NoMenu. Criada em setembro de 1998 foi, nas palavras de um dos fundadores, “pioneira”. Segundo Jorge Ferreira, o objetivo era “ser uma alternativa ao fast food ao domicílio”, tendo vindo a preencher uma “lacuna no mercado de entrega de comida de qualidade”. A encomenda é feita através do site ou do telefone, entre as 12h e as 23h30, e é possível escolher entre inúmeros tipos de cozinha.
Quanto à Uber, decidiu seguir as passadas que deu noutros países e trouxe em novembro a Uber EATS para Portugal. Fonte oficial da Uber explica ao i que “o compromisso da Uber em Portugal é querer levar mais e melhores soluções” aos utilizadores, daí a entrada neste mercado. A aplicação disponibiliza mais de 100 restaurantes de diversas categorias, em Lisboa, e faz entregas entre as 12h e as 24h.
Quem quer entregas ao domicílio? Nas ruas de Lisboa e do Porto, é visível o crescente movimento de motas e bicicletas de estafetas, sobretudo à hora das refeições. As taxas variam consoante a empresa, mas podem começar num euro.
Para quem procura o serviço, ter a vida facilitada é a grande vantagem, mas nem sempre a experiência corre bem.
André Rodrigues, 32 anos, já usou a UberEATS por diversas vezes, tanto para almoçar como para jantar. “Basicamente uso quando não me apetece cozinhar ou me apetece algo específico. A principal vantagem de entregarem em casa é precisamente não ter de pegar no carro e perder o lugar de estacionamento”, explica. Acha o processo de encomenda “bastante fácil e intuitivo” e o custo de entrega “razoável”. “No fundo é justo pagar este valor para não sair do sofá “, acredita.
Um caso diferente, ainda que com motivações semelhantes – a comodidade –, é o de André Pedroso, de 26 anos, que já usou dois serviços maioritariamente para os jantares de domingo: NoMenu e Glovo. E se considera o primeiro “impecável” e já o usou “inúmeras vezes”, o mesmo não é verdade para o segundo, que acha “péssimo”. “É rápido no pedido e na entrega, mas do que vale ser rápido quando o pedido vem trocado?”, questiona André, que acabou por não voltar a encomendar nada na Glovo. “Dizem que respondem em 24 horas e demoram mais de 48h. E até agora nada, nem uma única solução para o problema. Nem devolvem o dinheiro das coisas que encomendei e que não foram entregues”, queixa-se. Razão para reclamar tem também Pedro Carvalho, que um sábado em que se sentiu mais preguiçoso depois de andar a fazer compras de Natal, decidiu usar a UberEATS. Apesar de considerar o processo de encomenda “relativamente tranquilo”, ainda que “surjam repetições e redundâncias nos menus que não são totalmente claras”, depois de cerca de duas horas à espera, o pedido desapareceu da aplicação e do site. E o jantar nunca chegou.
Porque nem tudo são clientes insatisfeitos, Fábio Matos Cruz, de 29 anos, está convencido. Usou a Glovo diversas vezes, “por conveniência” e não tem razão de queixa. “A Glovo tem sido muito boa desde o começo. Sempre tive boas experiências”, diz. Costuma encomendar todos os fins de semana e nunca teve problemas. Já usou também o SendEAT e, apesar de achar que no início a aplicação dava alguns problemas, “tem vindo a melhorar significativamente”.
Já Pedro Aguiar, de 33 anos, é um veterano no uso dos serviços de entrega por causa “do trabalho que tudo implica em ir ao sítio e voltar”, resume. “Prefiro encomendar antecipadamente e ficar em casa”. Entre outros, costuma encomendar pelo SendEAT e o NoMenu ao fim de semana. Nunca teve problemas com nenhuma encomenda e planeia continuar a usar os serviços.
Diana Oliveira, de 27 anos, também já usou o NoMenu, a UberEATS e a Glovo. “É bastante prático para os dias em que não temos refeição planeada ou em que simplesmente não nos apetece cozinhar ou preparar nada”, afirma. Teve, no geral, “boas experiências”, à exceção de uma vez em que agendou uma encomenda no NoMenu para o dia seguinte e a recebeu no próprio dia. A apontar alguma coisa, apenas os valores das taxas de entrega que, apesar de não achar elevadas, já a levaram a não encomendar tanto na UberEats como no NoMenu.
E quando faltam apenas alguns dias para o fim de ano, importa saber que os quatro serviços vão estar em funcionamento no dia 31. Se quiser dar a festa lá em casa e não lhe apetecer cozinhar ou se precisar de alguma coisa durante a noite, por exemplo caipirinhas, é só pedir.