O presidente italiano dissolveu esta quinta-feira o Parlamento e deu corda ao relógio das eleições que já se vêm antecipando com nervosismo há mais de um ano, desde que o então primeiro-ministro, Matteo Renzi, anunciou a sua demissão.
Sergio Mattarella dissolveu a atual legislatura, deu início à campanha eleitoral que durará aproximadamente dois meses e marcou a próxima jornada eleitoral para 4 de março, numa altura em que nenhum partido ultrapassa o terço das intenções de voto e que o Movimento 5 Estrelas do ex-humorista Beppe Grillo lidera as sondagens com uma vantagem confortável sobre o Partido Democrático (PD) de Renzi.
“Continuaremos a governar”, afirmou esta quinta o atual primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, o terceiro a ocupar o cargo desde as últimas eleições, que se realizaram em 2013. Gentiloni, atirado para o lugar do condutor assim que Renzi se demitiu, realizou uma legislatura surpreendentemente estável, em parte graças ao fraco mas estável crescimento económico.
A Itália, defendeu numa conferência de imprensa realizada depois da dissolução do Parlamento, “está de volta ao bom caminho” e o seu governo conclui a tarefa “de forma ordeira”. Antes de partir para a campanha ao lado de Renzi, que foi reeleito como o líder do PD, Gentiloni alertou os italianos contra “viragens bruscas ou interrupções dolorosas numa altura muito delicada para a economia italiana”.
Gentiloni não disse o nome de Beppe Grillo, mas é ele, como o de Berlusconi, que por estes dias ocupa o pensamento dos líderes europeus e crescem nas sondagens eleitorais.
O eurocético M5S regista atualmente 28% das intenções de voto, uns cinco pontos à frente do PD, que tem cerca de 23%, e do Forza Italia de Sívlio Berlusconi, que está por agora impedido de concorrer às eleições do próximo ano – espera a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos – mas que vem também ganhando força à medida que a crise da chegada de requerentes de asilo e imigrantes da África Subsariana se afirma gradualmente como o tema mais urgente da campanha.
Berlusconi promete aliar-se com os partidos antimigração e nacionalistas da Liga Norte e Irmãos da Itália para combater a crise.
O PD de Renzi, por sua vez, surge prejudicado pela crise da imigração, não só porque está no governo, mas também porque propôs recentemente uma lei que garantiria cidadania a filhos de imigrantes que residam há muito no país e completem pelo menos cinco anos da escolaridade obrigatória – uma lei que fracassou no Parlamento.
“O pior resultado em termos de governabilidade e estabilidade é também o mais provável: um Parlamento de minorias”, explicava ontem o analista Wolfango Piccoli, em declarações ao “Financial Times”. “Isto significa que, no rescaldo das eleições, a Itália vai reentrar numa difícil fase política caracterizada por ruídos constantes sobre eleições antecipadas, mau governo e reformas difíceis.”