Antes de Passos Coelho anunciar a sua saída escrevi um artigo sobre a necessidade de «meter o partido a pensar». A clausura auto-imposta do PS em ‘geringonça’ e a aposta mediática e autárquica de Assunção Cristas davam – e ainda dão – ao PSD um espaço mais livre para discutir reformas, debater a Europa, projetar futuro. Nada disto foi feito nos últimos dois anos – para não dizer nos últimos dez.
Podemos falar das circunstâncias excecionais em que se governou de 2011 a 2014, devemos falar (e ninguém fala) do modo já inconstitucional como este Governo e o PS se comportam na Assembleia, fugindo a qualquer escrutínio parlamentar e relegando as iniciativas da direita à quarentena política, mas nada disso impedia o PSD de mostrar uma proatividade contrária a um semblante derrotista.
O país precisa de alguém que diga – sem medo – que ser mãe não pode ser um luxo em Portugal. O país precisa de um partido que explique que a Europa não serve só para impor metas financeiras ou distribuir fundos comunitários – que há ali um ideário democrático e uma segurança para futuro que não teremos noutro lugar, apesar de a própria Europa também esquecer isso demasiadas vezes. Até à apresentação dos programas – ou da «proposta de programa» de Santana e da «moção global» de Rio –, os dois candidatos à liderança do PSD pouco ou nada falaram sobre temas como estes. Falou-se muito em «debates», exibiram-se muitas «sondagens» e os peões queixaram-se muito dos «jornalistas». Mas as ideias para o país foram escassas. Mais de metade de cada intervenção é dedicada aos erros e às gaffes do Governo. E isso, além de não chegar, repete dois erros.
O primeiro, mais do lado rioísta, é a obsessão ideológica, de recentrar o partido como se Passos Coelho fosse de extrema-direita ou o PSD alguma vez tivesse sido de centro-esquerda, sendo absolutamente ridículo ver gente que nunca leu um livro de filosofia política a dissertar sobre ideologias e ainda mais ridículo acreditarem que o eleitorado quer saber – ou sequer perceber – o que era a «social-democracia». Acham mesmo que as maiorias absolutas de Cavaco Silva foram feitas a recitar Bernstein? Ou que a oposição ideológica de Passos à ‘geringonça’, por mais que eu concorde com ela, ganhou algum voto? Poupem-me. As pessoas estão-se nas tintas para a ideologia.
O segundo erro, agora tanto rioísta quanto santanista, é manter excessivamente o foco nos erros do Governo do PS. Estive recentemente num painel que confrontava apoiantes de ambos os lados e qualquer um falava mais contra o atual primeiro-ministro do que a favor do homem que é suposto quererem ver como primeiro-ministro. Para um partido que acusou a ‘geringonça’ de ser uma «coligação negativa», era avisado produzir um líder da Oposição que fosse mais do que um anti-Costa.
No fundo, o erro no debate sobre o futuro do PSD tem sido muito simples: não se debate o futuro do PSD.