As comemorações do 200º aniversário da vitória militar de um exército conjunto de britânicos e indianos dalit, contra as forças do Império Maratha, transformaram-se numa onda de protestos violentos que se arrasta desde segunda-feira, pelo estado de Maharashtra, na Índia.
O centro de Bombaim, por exemplo, esteve ontem estranhamente deserto – é a mais populosa cidade do país, com 12 milhões e meio de habitantes -, depois de centenas de elementos da mais baixa, pobre e descriminada das castas que compõem a pirâmide social hindu – também conhecidos pela pejorativa denominação de “intocáveis” – terem bloqueado as principais ruas da cidade, barricado as estações de transportes públicos, atacado comboios e autocarros, e obrigado ao encerramento de inúmeras escolas e lojas e ao cancelamento de dezenas de voos.
Quarta-feira foi o terceiro dia de protestos naquela circunscrição do subcontinente indiano. A violência terá sido espoletada na vila de Bhima Koregaon, a cerca de 170 quilómetros de Bombaim. Ali reuniram-se milhares de dalit, na segunda-feira, junto a um memorial comemorativo da batalha de 1818 e, de acordo com os próprios, terão sido atacados por membros de dois grupos nacionalistas hindus.
O incidente deu origem a confrontos entre as duas fações, que resultaram na morte de um jovem dalit, em centenas de feridos e na destruição de vários veículos em Bhima Koregaon. No dia seguinte os protestos alastraram para diversas cidades e vilas do estado de Maharashtra, como Bombaim, que obrigaram à intervenção policial e originaram confrontos entre agentes e manifestantes. Pelo menos 100 dalits foram detidos pelas autoridades.
Prakash Ambedkar, um conhecido líder daquela casta, apelou ao fim dos protestos, ontem ao final do dia, mas é difícil prever se os dalit irão acatar o seu pedido ou continuar a espalhar o caos por Maharashtra. O grupo enfrentou milhares de anos de exclusão social e económica, mas demonstrou, através deste protesto massivo e frenético, que tem poder para causar disrupções numa cidade tão populosa como Bombaim, ou num estado tão extenso como Maharashtra, e que a sua voz pode ser ouvida em todo o país.