Filhos que mandam nos pais

O sonho de qualquer criança é mandar. Se não lhe impusermos limites, estaremos a criar um pequeno monstro infeliz.

É comum as crianças fazerem disparates, pensarem que o mundo gira à sua volta, quererem tudo só para si, desobedecerem, fazerem a cabeça dos pais em água. São pequenos seres humanos ainda em desenvolvimento que nascem para serem servidos. Isto acontece sobretudo em bebés e há uma fase natural de um certo egocentrismo infantil, mas com o tempo é suposto e saudável que comecem a entender que o mundo não se rege só pelas suas leis.

Todos nós já assistimos a cenas em parques infantis, na rua ou em casa de amigos de crianças que desobedecem, que tiram os brinquedos a outras, que dizem ou fazem asneiras, que gritam e se viram contra os pais chegando por vezes a bater-lhes quando são contrariadas. Alguns pais ficam mais ou menos zangados e tentam explicar ao filho que não se deve proceder assim. Os espectadores dirigem olhares de desaprovação aos diabretes. Mas por vezes esses olhares vão para os adultos. Isto acontece quando, perante estes comportamentos, os progenitores ficam impassíveis, não fazem absolutamente nada ou sorriem com complacência. São pais incapazes de contrariar os filhos, que os deixam fazer absolutamente tudo, que não lhes impõem limites nem regras. Que criam filhos que mandam neles, intransigentes, que lhes impõem as suas próprias regras e que se fazem ouvir bem alto quando as coisas não lhes correm de feição.

O sonho de qualquer criança é mandar e controlar, ocupar o trono. E conhecemos a frustração que sente quando se confronta com a sua impotência em algumas situações. É natural que as crianças façam alguns disparates – muitos deles não passam de curiosidade e experimentação do mundo –, que não obedeçam cegamente e que preservem alguma irreverência. Também não queremos criar ovelhinhas. Mas, se não se pode dizer que não a tudo, também não se pode permitir ilimitadamente. As crianças têm de ser guiadas, orientadas, tem de haver um adulto responsável que lhes indique o caminho, lhes imponha regras e limites, para que tenham um guião para a vida que lhes dê segurança. Pais que parecem ter medo dos filhos, que não os conseguem ver frustrados ou zangados, que vão atrás de tudo o que estes querem sem perceberem que os filhos estavam à espera que lhes dissessem onde era suposto pararem, estão, sem saber, a criar pequenos monstros infelizes. Que crescem perdidos no seu egocentrismo, que não têm quem os contenha na sua insubordinação e que não sabem criar relações saudáveis com os outros, porque nunca os ensinaram a respeitá-los.

É importante saber que educar é um gesto de amor; impor limites ajuda a conter e a proteger; ensinar a partilhar e a respeitar cria melhores pessoas, mais seguras e capazes de criarem relações para a vida. Educar uma criança não é uma tarefa fácil, como não é fácil lidar com a frustração ou a tristeza dos filhos quando são contrariados. Mas os pais devem perceber que os mais pequenos esperam ser guiados por adultos seguros, que não têm medo de os ajudar a encontrar os melhores caminhos.

filipachasqueira@gmail.com 
*Psicóloga clínica