Rui Rio não pode ganhar

Rio concorre com as mesmas teses com que Ferreira Leite concorreu. É uma péssima ideia porque o PSD foi cilindrado nas eleições de 2009

Rui Rio concorre a eleições em 2018 com as mesmas teses com que Manuela Ferreira Leite já concorreu e ganhou o partido em 2008 – o que, parecendo uma boa ideia porque garantiu a vitória numas eleições internas, é uma péssima ideia porque foi com essas teses que o PSD foi cilindrado nas eleições legislativas de 2009. A saber: a tese da Verdade, com ‘v’ grande, essencialmente assente no pressuposto de que a imprensa é um pedregulho no caminho da verdade.
Aliás, desse ponto de vista, estas eleições são um regresso ao passado do PSD. Rui Rio está agora a querer revisitar as eleições internas de 2008 com os mesmos argumentos, as mesmas acrimónias, as mesmas teses. Ora, isto é um absurdo, não só porque Manuela Ferreira Leite perdeu as eleições, como (e muito mais importante) porque em 2010 o PSD viveu umas extraordinárias, desafiadoras e ideológicas eleições internas.  

Em 2010, Passos Coelho deu um salto novo, decisivo, inspirador, desafiador para o partido, que trouxe gente nova com contributos ideológicos decisivos. E agregador: pois puxou até aqueles que tinham ido a votos contra ele – Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco e Santana Lopes. 

Foi essa poderosa mescla que lançou o PSD para a convincente vitória nas eleições legislativas de 2011, governando o país durante 4 anos. 

Em 2010, as eleições internas elegeram um candidato ganhador, um líder que ganhou eleições legislativas e se tornou primeiro-ministro; as eleições internas de 2008 elegeram um líder que perdeu eleições legislativas e se tornou comentadora televisiva. Não é a mesma coisa. 

Da mesma forma que não é solução para Santana Lopes aceitar acriticamente tudo o que vem de Passos Coelho, também não é solução para Rui Rio querer apagar Passos Coelho da história, com regresso direto ao Pacheco Pereirismo.

Essa recusa de Rio em aceitar o legado de Passos tem outra consequência radical, coerente, diga-se: Rui Rio renega o posicionamento de Passos Coelho presidente do PSD, um partido distinto do PS. Rio vê o PSD como um partido semelhante ou complementar do PS. 

O PS é um partido facilitista, não reformista, que vive do Estado, para o Estado e pelo Estado. Logo, ao PSD restam duas vias: ou anuncia que vai ser igual ao PS, tentando cair nas boas graças da imprensa e de alguma opinião pública; ou é corajoso e anuncia que quer ser reformista, arriscando pragas piores do que as do Egito.

Rui Rio enveredou pela via mais fácil, que foi a confusão com o PS, fazendo crer que o PSD é parecido com o PS, para se livrar da má fama e imprensa que a direita tem em Portugal. Mas este posicionamento de um PSD que é uma pálida imagem do PS, embora tentador, não ganha eleições. 

Rui Rio é um regresso ao passado do PSD. E o passado não vende, não rende, não convence, não motiva. Sobretudo no país.

sofiarocha@sol.pt