As trocas de argumentos, por vezes menos indicados do que seria habitual, entre os treinadores em Portugal não têm sido bonitas de se ver (ultimamente, Sérgio Conceição e Rui Vitória têm estado na linha da frente nessa questão, mas também Jorge Jesus tem um passado que fala por si no que respeita a “bocas” aos adversários). É um facto. No entanto, caro leitor, convidamo-lo a perder um bocadinho do seu tempo para ler este artigo e perceberá que, em Inglaterra, a coisa não anda mais famosa. Pelo contrário.
Como também é apanágio nestas situações, José Mourinho está ao barulho. Ao longo da sua carreira, foram muitas as polémicas que criou com treinadores adversários – nos primeiros anos no futebol inglês, Alex Ferguson foi o interlocutor predileto, mas o arqui-inimigo do Special One em terras de Sua Majestade é ainda hoje Arsène Wenger. Ou era, pois o feudo com Antonio Conte tem vindo a ganhar proporções gigantes nas últimas semanas.
O bate-boca entre o técnico do Chelsea e o seu homólogo do Manchester United começou ainda na época passada: depois de um encontro em que os blues venceram os red devils por 4-0, Mourinho chamou “arrogante” a Conte, acusando-o ainda de falta de humildade. A discussão, porém, subiu de tom já esta temporada, particularmente depois do português ter dito, ao ser questionado sobre uma eventual perda de paixão pelo jogo, que não precisava de se portar como um “palhaço” na linha lateral. A imprensa britânica entendeu as palavras de Mourinho como uma indireta para Conte, conhecido pela sua postura enérgica e efusiva no banco, e o técnico italiano não se ficou. “Acho que ele tem de olhar para ele próprio, para o que fazia no passado. Se calhar estava a falar dele antes, não? Por vezes, parece que as pessoas esquecem o que disseram no passado, ou os comportamentos que tiveram. Parece que sofrem de… não sei o nome em inglês… em italiano é ‘demência senil’, quando se esquecem de coisas que faziam antes”, disparou.
Entretanto, o Chelsea garantiu que a palavra que Conte procurava era ‘amnésia’; seja como for, o sentido – e principalmente o alvo – era, de facto, Mourinho. E o Special One voltou ao ataque. “Sim, cometi erros no passado. Sei que celebrei golos a correr, a atirar-me de joelhos. O que queria dizer é que agora estou mais controlado. Contudo, isso não significa que a minha paixão não seja a mesma. Mas vou continuar a cometer erros no futuro, isso de certeza. O que sei é que nunca me vão suspender por combinação de resultados”, atirou, numa referência à suspensão de quatro meses que Conte teve de cumprir em Itália, devido ao envolvimento num esquema de combinação de resultados enquanto treinador do Siena.
À espera do special one Ora, Conte não é de comer e calar. E, obviamente, aqui também não o fez. “Quando há este tipo de comentários, em que se tenta ofender uma pessoa e não se sabe a verdade, então é-se um homem pequenino. Se calhar, foi um homem pequenino no passado, é um homem pequenino no presente e vai ser um homem pequenino no futuro”, disse o italiano no último sábado, após o nulo com o secundário Norwich, na Taça de Inglaterra. E completou: “É verdade que fui banido por quatro meses pela justiça desportiva italiana por não ter denunciado um caso de jogos combinados. Mais tarde recorri e o tribunal considerou que foi tudo um disparate. Antes de fazer este tipo de comentários tens de prestar atenção, caso contrário mostras que és um homem pequenino.”
Na mesma ocasião, Conte chamou “falso” a Mourinho, recordando o episódio em que o português compareceu numa conferência de imprensa com as iniciais de Claudio Ranieri (CR), após o italiano ser despedido do Leicester. “Lembro-me dele gozar com Ranieri pelo seu inglês. É falso, é falso. Acho que nos últimos tempos tem sofrido de amnésia. Quando te tornas mais velho corres esse risco. Não só ele, mas eu e vocês também”, atirou, num sorriso trocista.
Agora, não há uma única conferência de imprensa em que o assunto não venha à baila. Ontem, na antevisão do encontro desta noite com o Arsenal, das meias-finais da Taça da Liga, Conte voltou a ser questionado com o mesmo tema. E mais uma vez, não se acanhou. “Ele disse coisas muito sérias, utilizou palavras muito fortes. E não esqueço isso. Arrependido? Tenho ar de quem está arrependido? Não me parece. Ambos dissemos coisas, veremos o que acontece no futuro”, disparou, garantindo que as relações entre os clubes em nada ficaram afetadas: “Isto não é um problema entre clubes, é um problema entre mim e ele.”
Depois disto, Conte deixou uma promessa. “Agora vou parar. Vou parar”, disse o italiano. E até pode ser que sim. Tudo dependerá, porém, de Mourinho: por agora, o Manchester United está no Dubai a cumprir um mini-estágio; mas daqui a cinco dias tem jogo para a Premier League, frente ao Stoke. E o assunto vai voltar a surgir na antevisão do encontro, isso é garantido; se o Special One estiver virado para mais polémicas, não vai parar por aqui.