Os gestores e executivos das empresas automóveis defendem uma aceleração do movimento de consolidação na indústria como forma de competir com as grandes empresas tecnológicas pelo domínio do setor.
De acordo com a maioria dos inquiridos do 19º estudo Global Automotive Executive Survey da KPMG, as construtoras – Original Equipment Manufacturers (OEM) – têm de encontrar um equilíbrio entre concorrência e integração para conseguirem competir com os players digitais que estão a entrar rapidamente na indústria.
“A solidez financeira das maiores tecnológicas ofusca os maiores fabricantes automóveis. Juntos, os 50 maiores fabricantes automóveis representam apenas 20% da capitalização de mercado das 15 maiores empresas tecnológicas. Em 2010, representavam 40%. Isto revela que as empresas digitais atuam num patamar financeiro completamente diferente”, resume o Head of Automotive da KPMG.
De acordo com Dieter Becker “sobretudo para os fabricantes de automóveis para as massas, as parcerias são essenciais para competirem contra os gigantes tecnológicos”. O responsável pelo estudo a que i teve acesso acrescenta que apesar dos “fornecedores premium esterem mais bem posicionados, também reconheceram estes sinais, o que resultou na integração de alguns serviços” como sistemas de navegação ou postos de carregamento de carros elétricos.
Moblidade elétrica
De acordo com o estudo, apesar de hoje em dia serem produzidos 3000 modelos automóveis em mais de 700 fábricas, apenas 2% destes modelos são veículos inteiramente elétricos. “Ainda que continuemos a ouvir falar de mobilidade elétrica, os veículos elétricos não serão os únicos veículos nas estradas no futuro próximo e continuarão a existir vários tipos de motorizações”, refere Dieter Becker.
Assim, a principal tendência do mundo automóvel até 2025 é que os FCEV (´Veículos elétricos com células de combustível) substituam os BEV (veículos elétricos movidos a bateria). Esta coexistência de motorizações dependerá em grande medida das geografias, regulação e preferência dos consumidores.
Para além disso, não haverá serviços de valor acrescentado e novos conteúdos sem a digitalização como chave: a conetividade e a digitalização são a segunda grande prioridade da indústria.
O inquérito conclui que há um foco na segurança de dados dos condutores, com mais de 80% dos executivos a afirmar a necessidade de redefinição do termo “equipamento de série”. Já “85% dos executivos e 75% dos clientes acredita que no futuro, a cibersegurança será um requisito prévio para a compra de um automóvel”.
O estudo aponta ainda que a China deixou de ser apenas um foco para o crescimento em volume do mundo automóvel. Segundo os inquiridos, o país está também a ultrapassar os mercados maduros no que diz respeito aos lançamentos de modelos de negócio inovadores.
Um cada vez maior número de entrevistados aponta a China como o primeiro país para lançar novos serviços de mobilidade e executar novos modelos de negócio baseados em dados e informação. A consequência, de acordo com 74% dos inquiridos no estudo da KPMG, é que na Europa Ocidental, em 2030, só serão fabricados 5% dos carros.
Recursos limitados
Uma melhor utilização dos recursos é a outra tendência abrangente revelada pelo estudo, no qual se lê que “o futuro é indefinido e pronto a ser explorado, mas exige uma utilização mais responsável e sustentável dos recursos que na atualidade”. Esta é a opinião de três em cada quatro executivos, convencidos que uma melhor utilização dos recursos será um dos grandes drivers da indústria.
A maioria dos gestores considera que no futuro não haverá diferenciação entre os modelos de negócio de transporte de pessoas e de mercadorias. A autonomia, partilha e serviços com base em plataforma vão revolucionar os padrões de mobilidade e dar origem à “mobilística”, a fusão entre mobilidade e logística. Quase um quarto (73%) dos executivos está convencido de que daqui a dez anos as soluções de transporte público poderão dar lugar a soluções autónomas on demand.
Para a edição deste ano, foram entrevistados 3000 inquiridos, dos quais 900 são executivos do setor automóvel e 2100 são consumidores. Cerca de um terço dos inquiridos são provenientes da Europa Ocidental ou de Leste, 15% da China e 13% da América do Norte e do Sul. 16% dos executivos são da Índia e sudeste asiático e 12% da Ásia.
Cadeia de valor
Os executivos inquiridos representam empresas de toda a cadeia de valor automóvel, incluindo fabricantes de veículos, fornecedores de componentes, concessionários, fornecedores de serviços financeiros, fornecedores de serviços de mobilidade e, pela primeira vez, empresas de tecnologia de informação e comunicação. Mais de 70% dos participantes atuam em empresas com lucros anuais superiores a mil milhões de dólares, das quais 70% têm lucros superiores a 10 mil milhões de dólares. O estudo foi realizado online entre julho e novembro do ano passado.