O vento do segundo referendo sobre o Brexit parece cada vez mais forte e os dirigentes europeus estão a aproveitar os sinais para reforçar a ideia de que nada é definitivo até ser definitivo. Ontem Donald Tusk disse-o taxativamente: “Nós, aqui no continente, não mudamos de posição. Os nossos braços continuam abertos para vocês”. A secundar a posição do presidente do Conselho Europeu veio logo Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia afirmar: “Espero que estes comentários do meu colega Donald Tusk não sejam ignorados em Londres”.
Se o ex-líder da extrema-direita britânica e um dos rostos da campanha pelo “não”, Nigel Farage, já veio defender em público a realização de um segundo referendo. Agora, aparentemente, segundo o “The Sun”, o ministro dos Negócios britânico e o maior defensor da saída do Reino Unido da UE também já mostrou vontade, embora em privado, de que tudo fique assim, se a primeira-ministra não conseguir negociar um Brexit suave. “Prefiro ficar a sair assim” e o assim é uma saída dura da companhia dos 28.
Tudo fatores que parecem apontar para a possibilidade de tudo vir a mudar apenas para ficar tudo na mesma.
O que, a julgar por uma sondagem da BMG citada pelo “Business Insider”, parece ser a opinião da maioria dos britânicos, esmagadora entre os mais jovens. Daqueles que aceitaram responder, 57% mostrou-se partidário de um segundo referendo, no caso de o governo britânico não conseguir assegurar uma saída suave da UE. Entre os eleitores de 18 a 34 anos, essa percentagem sobe para números ainda mais explícitos, 73%, bem como entre os apoiantes do Partido Trabalhista, com 74%.
Na semana passada, uma outra sondagem, da Comres, dava conta que a maioria dos britânicos seria agora favorável à permanência do Reino Unido na UE, com 55% dos inquiridos favoráveis à continuação na Europa e 45% a reiterar o Brexit.
Mesmo assim, Jeremy Corbyn, em entrevista à ITV no domingo, garantiu que o seu partido não está focado nessa questão: “Não apoiamos nem estamos a pedir um segundo referendo”. Para o Labour, o importante é o futuro, sublinhou o líder: “É uma distinção realmente importante: vamos a olhar para trás com mágoa ou vamos olhar para a frente para os desafios do futuro”.
No entanto, o descontentamento com a forma como Theresa May está a conduzir as negociações com Bruxelas parece estar a reunir o consenso, mas de uma forma que a primeira-ministra não gostaria, reunindo críticas entre apoiantes e contrários.
“Mais de 18 meses passados sobre o voto do Brexit, é inacreditável que o governo britânico não só seja ainda incapaz de dizer que tipo de relação quer com a UE, como ainda por cima não conseguiu produzir nenhuma avaliação económica significativa das diferentes possibilidades”, acusou a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon.
Para a líder do executivo escocês, só um Brexit suave, mantendo o Reino Unido no mercado único e na união alfandegária faz sentido, porque só assim se conseguirá “evitar a perda desnecessária de empregos e cortes no nível de vida”.
May não teceu comentários, mas uma porta-voz do governo aconselhou Sturgeon a não pôr em causa as negociações e proteger os interesses do Reino Unido: “Ao invés de minar o resultado de um referendo democrático, pedimos ao governo escocês que trabalhe connosco para assegurar que, na nossa saída da UE, protegemos o mercado interno que é vital para nós”.