Antónia Bandeira estava na cozinha a preparar o almoço. A mãe, Jacinta, de 88 anos, estava sentada à porta, a aproveitar o sol da manhã. O cenário de todos os dias mudou quando, às 11h51, a terra tremeu.
“Começou com um estrondo, parecia uma rebentamento”, explica Antónia, uma das poucas moradoras da Aldeia da Serra, a 12 quilómetros de Arraiolos, epicentro daquele que foi o maior sismo com epicentro em terra dos últimos vinte anos em Portugal.
Não é que não estejam habituados a sentir a terra tremer, até porque Arraiolos é considerada uma zona com elevada vulnerabilidade sísmica. “Volta e meia há qualquer coisa, mas nunca nada como este. Foi um susto como nunca antes senti”, garante Antónia, cujo primeiro instinto foi correr para a rua e a afastar a mãe das paredes da casa, com medo que caíssem. “Felizmente não aconteceu nada, mas se tivesse durado mais um tempo, não sei como é que isto ia acabar”, desabafa ao i. Nos poucos segundos que durou o sismo, Antónia só soube que um quadro da vizinha caiu da parede.
No entanto, num país pouco habituado a estes eventos, o sismo de ontem foi tema central das notícias, das redes sociais e, claro, das conversas de rua. “Não se fala de outra coisa”, garante Maria Leonor Maneiras. Proprietária de um café mesmo ao lado da igreja Matriz de Arraiolos, sentiu um barulho e um abalo forte. “Até pensei que era uma carrinha a estacionar aqui à porta”, conta. Mas quando saiu à rua para confirmar a suspeita, percebeu que o próprio condutor da carrinha ainda tentava perceber o que teria sido aquele estrondo que, apesar de ter durado poucos segundos, já foi suficiente para que o tremor de terra de ontem seja considerado o mais intenso desde que há registos sísmicos, em 1960.
Os relatos destas duas moradoras vão ao encontro daquilo que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) descreve como cenário de um sismo de intensidade 4.9: “vibração semelhante à provocada pela passagem de veículos pesados ou à sensação de pancada de uma bola pesada nas paredes. Carros estacionados balançam. Janelas, portas e loiças tremem. Os vidros e loiças chocam ou tilintam. Na parte superior deste grau as paredes e as estruturas de madeira rangem”. Fernando Carrilho, chefe da divisão de geofísica do IPMA, indicou ao i que foi enviada uma equipa para o terreno, para analisar os efeitos do abalo. Já os relatos de pessoas que sentiram o sismo a muitas dezenas de quilómetros do epicentro não tardaram: foram mais de 200, o mais distante de Braga, a mais de 300 quilómetros de Arraiolos.
Sem registo de danos ou vítimas, os Bombeiros Voluntários de Arraiolos confirmaram ao i que não foram registadas ocorrências. Como medida de prevenção, o Agrupamento de Escolas de Arraiolos foi evacuado. A autarquia explicou que o plano de segurança do agrupamento escolar “foi acionado” e que “os professores e alunos saíram do edifício”. Também em Elvas, onde o sismo foi sentido com intensidade, levando à evacuação das escolas.
Com Marta F. Reis