A solidão mata e o governo britânico quer combatê-la. Não se conhece ao certo os caminhos dessa morte, mas há material de estudo que baste para sugeri-la com alta probabilidade. Por exemplo, um estudo de há sete anos avalizado pela Universidade de Cambridge, e que cruza os dados de mais de uma centena de investigações que analisam o tema da mortalidade em relação à vida social do indivíduo, argumenta que pessoas solitárias são 50% mais propensas a terem uma morte precoce do que outras. Outro grande estudo, este cruzando os dados de mais de três milhões de pessoas, sugere que o impacto da solidão na saúde é semelhante ao da obesidade.
O governo britânico anunciou esta semana que a subsecretária de Estado para o desporto e a sociedade civil vai passar a desempenhar também as funções de responsável pelo combate à solidão. Tracey Crouch é subsecretária, mas já vem sendo chamada a “ministra da solidão”. É exagero, mas um avanço. O passo dado pelo governo de Theresa May foi provocado pela Comissão Jo Cox, do nome da deputada assassinada há dois anos por um militante da extrema-direita e que, em vida, debateu os problemas da solidão. A investigação conduzida em seu nome terminou no fim do ano passado num relatório que defende que cerca de oito milhões de britânicos dizem estar regularmente ou “sempre” em solidão.
“Para demasiadas pessoas, a solidão é a triste realidade da vida moderna”, afirmou Theresa May num comunicado publicado quarta-feira, no qual formaliza as novas tarefas da sua subsecretária. Crouch começará por recolher sugestões legislativas de várias organizações sociais e, em paralelo, o gabinete de estatística britânico preparará uma fórmula para calcular o problema.
Segundo o relatório publicado pela Comissão Cox – e em parte conduzido pela Cruz Vermelha – cerca de metade dos britânicos reconhece sentir-se ocasionalmente solitários. “Quero enfrentar este desafio para a nossa sociedade e que todos tomemos medidas para discutir a solidão sofrida pelos mais velhos, os cuidadores de saúde e os que perderam entes queridos – pessoas que não têm com quem falar ou partilhar os seus pensamentos e experiências”, lê-se no comunicado da primeira-ministra.
A paisagem da solidão britânica descrita no relatório publicado em dezembro desmembra algumas ideias comuns sobre o tema. Grande parte das ferramentas para o combate à solidão estão dirigidas para a população mais velha. No entanto, pelo menos de acordo com a consulta do ano passado, são as gerações mais novas, de idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos, assim como a população economicamente mais desfavorecida, quem mais frequentemente confessa sentir-se só.
Parece haver até um decréscimo de solidão à medida que se avança na idade: os que têm mais de 55 anos, por exemplo, dizem-se menos solitários que os da faixa etária abaixo, e o mesmo acontece com os que têm 70 anos ou mais. Embora o relatório defenda que deve haver mais ferramentas de combate à solidão para gerações mais novas, também sustenta que é um erro concluir que os mais velhos não são as vítimas mais comuns.
“Isto não sugere que os mais velhos de 55 são menos solitários, mas, antes, que dizem sentirem-se menos frequentemente sozinhos. Embora este estudo não apresente provas categóricas de que há menos prevalência de solidão para os mais velhos, sugerimos que estes grupos etários estejam mais a par dos apoios disponíveis.”