Entre eleitorado e representantes da elite política alemã, foram muitos os que pensaram que o pior do período de incerteza do motor da Europa ficara para trás quando, às primeiras horas de sexta-feira da semana passada, Angela Merkel e Martin Schulz anunciaram um princípio de acordo para a renovação da ‘grande coligação’ que governou a Alemanha durante os últimos quatro anos. Os sinais oriundos das bases do Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão), durante a semana que passou, mostram, no entanto, que ainda é cedo para celebrar o fim da instabilidade política. Particularmente junto dos insatisfeitos sociais-democratas que representam o populoso estado da Renânia do Norte-Vestfália e que acreditam que Schulz cedeu em demasia às exigências de Merkel.
No próximo domingo, em Bona, 600 delegados do SPD – o segundo partido mais votado nas eleições federais de setembro do ano passado, depois de alcançado o pior resultado eleitoral da sua História pós-1945 – irão decidir pela aprovação ou rejeição do documento de 28 páginas que oficializou o pacto com a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social-Cristã (CSU), da Baviera. Desses, 144 vêm daquele estado alemão, casa de um quinto da população do país, com forte tradição social-democrata – fruto, em grande medida, dos complexos industriais que se espalham pelo vale do Ruhr -, e com capacidade real para decidir o desfecho da votação. Não foi por acaso que o líder do partido começou por ali a sua maratona de reuniões com delegados e militantes, no início da semana.
Em conversa com o Politico, o líder do SPD da Renânia do Norte-Vestfália e ex-deputado, Rainer Brinkmann, confirma que o acordo entre o líder do seu partido e a chanceler alemã é «insuficiente» e incorpora «poucas concessões» dos democratas-cristãos. «Esperava que conseguíssemos um pouco mais [da CDU/CSU]. Não considero este resultado suficiente», referiu Brinkmann, lembrando, porém, que a ineficácia da liderança do SPD em lidar com Merkel vem dos tempos do anterior Governo: «Na realidade, já tivemos quatro anos de negociações de coligação», lamentou.
Nas sedes partidárias sociais-democratas de cidades como Dortmund, Düsseldorf, Essen ou Colónia, acredita-se que Schulz cedeu em demasia em questões relacionadas com a saúde e com a tributação das maiores fortunas, e por isso não se desdenha um cenário de Governo minoritário liderado pela CDU e confrontado diariamente pelo SPD no Parlamento. «Temos de tornar claro que não somos nós que temos de carregar com a responsabilidade. Chegou a altura da CDU/CSU apresentar alternativas», considera Alisa Löffler, delegada por Dortmund.
Além de Angela Merkel, que já o disse várias vezes, quem torce o nariz à inédita hipótese de constituição de um Executivo sem maioria parlamentar, é o líder da CSU. Numa entrevista ao Bild, Horst Seehofer rejeitou esse cenário e garantiu que um chumbo social-democrata no domingo será uma «catástrofe política» para o país. «Só posso pedir a todos [os delegados] que ajam em conformidade e que validem a formação de um Governo. Tudo o resto será desastroso para a Alemanha», apelou.
O «desastre» alemão – ou evitá-lo – está, assim, nas mãos dos militantes do SPD.