Make America Horny Again. Depois da suposta relação com Trump, atriz porno faz-se à estrada

Stormy Daniels celebrou aniversário da administração Trump com o primeiro espetáculo de striptease de uma digressão dedicada ao suposto escândalo que envolve o presidente. De acordo com o “Wall Street Journal”, terá recebido 130 mil dólares pelo seu silêncio, semanas antes das eleições norte-americanas

Chama-se Stephanie Gregory Clifford, mas no mundo do cinema para adultos todos a conhecem por Stormy Daniels – qualquer coisa como Daniels “tempestuosa” ou “tormentosa”, em língua portuguesa. No passado sábado, dia do primeiro aniversário da tomada de posse de Donald Trump como 45.º presidente dos Estados Unidos, a atriz pornográfica de 38 anos foi a estrela de um espetáculo de striptease que teve lugar no Trophy Club de Greenville, no estado da Carolina do Sul. Para aqueles que deram uma vista de olhos pelo panfleto distribuído pela gerência do bar nos dias anteriores, ficou claro que a escolha da data não fora um mero acaso: “Ele via-a ao vivo. E você também a pode ver!”, lia-se nas letras gordas do papel.

O “ele” é precisamente Donald Trump, com quem Stormy Daniels terá tido uma relação amorosa durante vários meses de 2006, de acordo com uma entrevista de 2011 à revista “InTouch”, dada pela própria, e publicada na íntegra na passada sexta-feira, e com uma notícia recente do “Wall Street Journal”.

Nessa noite de sábado e na madrugada de domingo, o Trophy Club foi pequeno de mais para acolher as quase 300 pessoas que, a troco de 20 dólares (cerca de 16 euros), assistiram in loco à estreia da digressão “Make America Horny Again” – um trocadilho com o lema de campanha de Trump (Make America Great Again), passível de ser traduzido para “tornar a América novamente excitada” – composto por duas atuações de striptease, acompanhadas pela reprodução de imagens do presidente nas televisões do espaço e ao som do “Animal” da banda britânica Def Leppard. O espetáculo foi um retumbante sucesso e promete voltar a sê-lo quando for apresentado em Nashville (Tennessee), Oklahoma City (Oklahoma) e Shreveport (Luisiana).

O suposto relacionamento amoroso entre a atriz pornográfica e o presidente Trump foi investigado por diversos meios de comunicação norte-americanos – como a Fox News, a CNN ou a Slate – nas derradeiras semanas da corrida eleitoral à Casa Branca, disputada entre o magnata do imobiliário e a ex-primeira dama e secretária de Estado Hillary Clinton, mas acabou por desaparecer do mapa mediático dos EUA por falta de provas e testemunhos públicos.

A história regressou, porém, em força, há cerca de dez dias, depois de o “Wall Street Journal” ter revelado que o advogado de Trump tinha comprado o silêncio de Stormy Daniels, pagando-lhe 130 mil dólares (quase 106 mil euros). Refere aquela publicação que a atriz terá recebido o pagamento de Michael Cohen no dia 17 de outubro de 2016, dez dias depois de o “Washington Post” ter publicado um vídeo de 2005 do programa “Access Hollywood”, no qual se ouve o agora presidente dizer a Billy Bush que gostava de agarrar as mulheres “pelos genitais” e forçá-las a ter sexo com ele. Num artigo assinado em nome próprio, o editor executivo do Slate Group, Jacob Weisberg, confirmou que foi por essa altura que a sua investigação ao suposto caso foi pelo cano abaixo, já que Daniels deixou efetivamente de responder às suas chamadas e mensagens.

A Casa Branca negou a notícia do “Wall Street Journal” e relembrou que a veracidade da mesma já tinha sido negada durante a campanha eleitoral. “Estes relatos são antigos e reciclados, já foram publicados e firmemente negados antes da eleição”, lê-se no comunicado divulgado pela administração Trump há umas semanas. Num email enviado para a redação do “Washington Post”, o próprio Cohen confirmou que aqueles rumores “já circulam desde 2011” e fez questão de lembrar que “notícias antigas que não eram verdadeiras na altura não são verdadeiras agora”.

Golfe, tubarões e uma entrevista recuperada

As notícias de 2011, referidas pelo advogado e amigo de longa data de Donald Trump, reportam-se a uma publicação da “In Touch”, que dava conta do caso amoroso do magnata com Stormy Daniels. Na última sexta, no entanto, aquela revista decidiu publicar uma longa entrevista que fez à atriz pornográfica, em maio daquele ano, e cujo conteúdo, nunca reproduzido na íntegra, terá dado azo ao artigo em causa.

Nessa entrevista, Daniels revela que conheceu o magnata em julho de 2006, num torneio de golfe, e que iniciaram aí o seu relacionamento amoroso – o presidente tinha casado no ano anterior com a atual mulher e primeira-dama Melania. A atriz refere que o primeiro encontro teve lugar no quarto de hotel do resort de Lake Tahoe, onde Trump estava hospedado, e diz que se voltaram a encontrar várias vezes durante esse ano, para além de trocarem mensagens por telefone com frequência.

O relato da atriz pornográfica à “In Touch” dá conta uma série de episódios com o então empresário e estrela de TV, alguns deles bastante caricatos. Stormy conta, por exemplo, que Trump a queria levar para o programa televisivo “The Apprentice”, que passava horas do seu dia a ver televisão, que lhe dizia para “não se preocupar com a Melania” e que lhe fazia alguns pedidos insólitos. Como quando a instou a bater-lhe como uma edição da revista “Forbes” que tinha a sua filha Ivanka na capa ou quando a obrigou assistir ao programa “Shark Week” – “semana dos tubarões”, em português – durante três horas.

A fixação de Trump por tubarões foi, na realidade, um dos temas destaque na entrevista. “Ele [Trump] é obcecado por tubarões, tem pavor de tubarões. Às vezes dizia-me: ‘Eu doo imenso [dinheiro] a várias organizações de caridade mas nunca doaria a organizações que ajudam tubarões. Espero que todos os tubarões morram’”, relatou Stormy Daniels.

O jornalista que realizou a entrevista, Jordi Lippe-McGraw, explicou ao “Post” que Daniels decidiu falar publicamente sobre o caso amoroso com Trump por se sentir ofendida com os comentários negativos do próprio sobre as pessoas ligadas à indústria pornográfica, anos depois de terminada a relação entre os dois. Os motivos da não publicação da conversa telefónica em 2011 não foram, no entanto, revelados.

Questionado sobre o tema, o atual diretor da “In Touch” lembrou que não fazia parte dos quadros da revista nessa altura e que, por isso, não esteve envolvido na decisão. Ainda assim refere que a notícia do “WSJ” deu condições à divulgação da entrevista quase sete anos depois. “Esta história tem agora uma importância singular, que não teria tido caso tivesse sido publicada anteriormente”, defendeu James Heidenry, explicando ainda que, tal como é “prática comum em notícias de celebridades”, Stormy Daniels foi submetida a um teste do polígrafo em Las Vegas, antes de falar à “In Touch” por telefone.

Quem é stormy Daniels?

Nascida a 17 de março de 1979, em Batoun Rouge, no estado norte-americano do Luisiana, Stephanie Clifford tornou-se stripper com apenas 17 anos. Segundo o britânico “Sun”, o nome artístico “Stormy Daniels” surge logo nessa altura e é o resultado da combinação do nome da filha de Nikki Sixx, baixista da banda Motley Crue, que se chama Storm, com a marca de whisky Jack Daniel’s.

A entrada no mundo do cinema para adultos dá-se alguns anos depois e Daniels assina um contrato com a produtora de filmes pornográficos californiana Wicked Pictures em 2002. Em 2004, já fazia parte da equipa de realizadores da empresa.

Atualmente com 38 anos, já apareceu em cerca de 150 filmes pornográficos e conta ainda com pequenas participações nos filmes “Virgem aos 40 anos” (2005) e “Um Azar do Caraças” (2007), bem como no videoclipe da música “Wake Up Call”, dos Maroon 5.

Em 2009 foi desafiada a candidatar-se ao cargo de senadora do Luisiana, mas rejeitou por entender que, para além dos custos avultados de tal empreitada, não iria ser levada a sério pela comunicação social norte-americana.