Ou como aqueles que, na realidade, encontramos sobretudo em árvores ou postes, e onde se anuncia «procura-se cão» ou «procura-se gato». No entanto, este cartaz ironicamente anuncia: «Procura-se cérebro».
Sendo irónico e simultaneamente crítico da sociedade acéfala em que muitas vezes parece que vivemos, indica que procurar um cérebro é procurar algo muito valioso, que parece não existir e do qual necessitamos.
Na realidade, se olharmos com sentido crítico aquilo que nos rodeia, os comportamentos dos outros, as decisões políticas que são tomadas, ou algumas decisões judiciais que nos surpreendem, acabamos por perceber que, muitas vezes, falta algum «cérebro» à nossa volta. Muitos são os comportamentos acríticos ou chocantes que nos surpreendem, quando lemos um jornal ou vemos um noticiário. Parece que nada faz sentido, que o mundo está às avessas (e, como se espantava Carlos Drummond de Andrade, «como é grande o mundo»!), e nem sequer conseguimos perceber como certos políticos chegam ao poder e conseguem impunemente, e sem grande utilização do seu cérebro, tomar certas decisões. Parece que todos veem o óbvio, exceto o próprio e aqueles que orbitam à volta dele e asseguram a sua corte, contribuindo para que se sinta todo-poderoso e impune.
E não pensemos apenas no caso óbvio e quase caricatural dos Estados Unidos. Bem perto de nós, na Europa, e mesmo no nosso país, isto acaba por acontecer. No entanto, como sempre, há quem concorde e apoie as medidas que os governos adotam e há também os que, sendo contra, não conseguem perceber como não é óbvio para todos que estas decisões são erradas. São estes os que acham que faria falta um cérebro em cada cabeça para que tudo se tornasse mais claro.
Neste grafito, o cérebro que se procura pode também ser um cérebro para a própria cidade retratada – uma qualquer cidade, onde as decisões urbanísticas são quase sempre questionáveis. E, aproximando-se as eleições autárquicas, as intervenções no espaço urbano tornam-se frenéticas, causando o caos nas cidades, a quem circula de carro e, mesmo, a pé.
Um cérebro é, pois, como todos sabemos, algo fundamental, que suporta todas as opções e decisões do ser humano. Dizer que se procura um cérebro é dizer que se procura o que de mais importante existe em cada um de nós, aquilo que garante a nossa inteligência e a inteligência com que interagimos com os outros. Como disse Saramago: «Acho que damos pouca atenção àquilo que efetivamente decide tudo na nossa vida, ao órgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. Tudo quanto estamos por aqui a dizer é um produto dos poderes ou das capacidades do cérebro: a linguagem, o vocabulário mais ou menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, o ódio, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça. Fora da nossa cabeça não há nada.»
Seja por opção, ou não, há quem prefira poupar este recurso e viver a vida sem grandes preocupações. Como dizia uma das tias de Lobo Antunes: «– ó filho, escolhe-me aí um filme levezinho que para maçadas basta a vida». E há quem viva muito maçado, muito entediado…
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services