Brasil. Lula não arreda pé e promete desobedecer

O líder condenado foi ontem aclamado como o candidato do PT às eleições de outubro. Se não for no boletim de voto, irá como símbolo. 

Ninguém arreda pé no campo de Lula da Silva e a estratégia concebida pelo Partido dos Trabalhadores antes da nova condenação do ex-presidente continua em marcha. Lula vai ser candidato em outubro, mesmo que os tribunais o impeçam, o sancionem ou prendam. Se o seu nome não entrar nos boletins e máquinas de voto eletrónico, continuará como símbolo.

Os jornais garantem que o maior partido da esquerda brasileira espera o pior e a verdade é que nem o próprio Lula o esconde dos discursos, mas se a primeira palavra de ordem é “Lula” a segunda, como se descobriu esta quinta-feira é “desobediência”. O partido assegura que será desobediência pacífica, mas as ruas têm vida própria e não se sabe certamente o que acontecerá. O mais claro é que o futuro próximo da política brasileira não pertence só aos tribunais. 

Tudo isto se disse e representou esta quinta-feira em São Paulo, no dia em que o crème de la crème “petista” lançou a sua figura mais conhecida, querida e arriscada ao palco para que Lula da Silva fosse aclmado o candidato presidencial que já todos sabiam que seria.

Que a cerimónia acontecesse um dia depois de ter sido aberto o mais negro capítulo jurídico da história do ex-presidente foi intencional. Que as figuras estivessem mais sombrias, digerindo ainda uma condenação surpreendentemente rígida, não. 

"Coisa indesejável"

“Essa candidatura só tem sentido se vocês forem capazes de fazê-la, mesmo que aconteça uma coisa indesejável”, lançou o ex-presidente, novamente erguendo o espetro de uma prisão, como fizera horas antes da condenação dos três juízes do Tribunal Federal entretanto celebrizado como TRF-4.

O líder brasileiro garantiu esta quinta que a sua candidatura às eleições gerais de outubro não se trata de uma fuga em frente, como é lida noutros círculos, e, ao lado de Dilma Rousseff, disse que a condenação de quarta é a continuação do “golpe” que começou com o impeachment da sucessora.

“Jesus Cristo foi condenado à morte sem dizer uma palavra, recém-nascido. E se José não fugisse, ele tinha sido morto. Era a tentativa de julgar alguém que vinha para fazer uma coisa boa”, defendeu Lula da Silva, para algumas gargalhadas.

“Eu sei que amanhã a imprensa vai dizer: ‘Lula se compara a Cristo’. Longe disso. Mas estou apenas querendo relembrar vocês: não vai ser uma tarefa fácil. Esse partido passou um monte de tempo gritando que não ia ter golpe e teve golpe.”

Prisão?

O mote da resistência pacífica surgia esta quinta e a bom som entre as declarações dos líderes trabalhistas e de movimentos cidadãos. A saída para o PT e Lula, afirmava o senador Lindbergh Farias, é “a rebelião cidadã e a desobediência civil, nos moldes de Martin Luther King”.

No entanto e por enquanto, ainda não há prisão a que resistir ou declaração de inelegibilidade para contrariar, e o Brasil, como boa parte do mundo, vive por estes dias submerso em teorias jurídicas e perspetivas legais que ocasionalmente se contrariam e, quase sempre, geram uma montanha de ruído e confusão. 

Certo é que os advogados do ex-presidente têm apenas dois dias depois de publicado o acórdão para apresentarem queixas ao TRF-4. Estas serão essencialmente queixas de natureza processual que, em princípio, nada podem fazer para contrariar os 12 anos e um mês de prisão que o coletivo de três juízes anunciou na quarta-feira por crimes de corrupção.

As hipóteses de salvação para Lula, sejam elas eleitorais ou criminais, parecem residir nos tribunais supremos. Em todo o caso, os mesmos três juízes desembargadores que condenaram Lula na quarta podem optar por pedir a sua prisão preventiva assim que estejam resolvidas as queixas processuais.

Até lá, Lula estará em campanha.