Quando em janeiro de 2015 Mohammed bin Salman foi nomeado ministro da Defesa da Arábia Saudita, com apenas 29 anos, fora do reino poucos o conheciam. Sabia-se que era o filho mais velho de Salman bin Abdulaziz Al Saud – o homem que nesse mesmo mês de janeiro sucedeu a Abdullah bin Abdul Aziz no trono – e que fora conselheiro do pai durante uns anos, mas as suas valias políticas ainda eram desconhecidas e até diminutas, tendo em conta o currículo dos vários aspirantes à pasta ministerial em causa. Como que para dizer ‘presente’ e afastar dúvidas sobre a sua apetência para o cargo, o novo ministro deu luz verde, logo em março, à operação militar saudita no vizinho Iémen, destinada à reconquista do território perdido para os rebeldes hutis. Os resultados dessa campanha foram desastrosos – o conflito arrasta-se sem fim à vista e transformou-se numa das maiores crises humanitárias dos tempos modernos -, mas a reputação de Mohammed bin Salman disparou em flecha desde aí. E hoje, nomeado príncipe herdeiro, não parece haver quem mande mais do que ele em Riade. Provavelmente nem o próprio rei.
Nascido a 31 de agosto de 1985, MbS – como é referido na Arábia Saudita – é o filho primogénito resultante do terceiro casamento do Rei Salman, com Fahdah bint Falah bin Sultan. Colocado entre os dez melhores alunos do Reino durante o ensino primário, confirmou a reputação de estudante de excelência na Universidade Rei Saud, onde se formou em Direito, com a segunda melhor nota do curso. Saído da faculdade, dedicou-se ao empreendedorismo, tendo ajudado a erguer e desenvolver empresas, fundações e organizações sem fins lucrativos precursoras de atividades de serviço público. Pelo meio foi ainda conselheiro de várias entidades estatais.
O início da carreira política a tempo inteiro deu-se em 2007, quando se torna conselheiro do conselho de ministros saudita. Dois anos depois acumula esse papel com o de conselheiro especial do pai, na altura governador de Riade. Nunca mais deixou de trabalhar com o agora Rei, que viu no filho alguém com potencial para governar o país e implementar na arcaica sociedade saudita as inevitáveis mudanças impostas pelo mundo globalizado. Foi por isso que o cargo de ministro da Defesa atribuído em 2015 foi reforçado meses depois com outras três nomeações: para segundo vice-primeiro-ministro; para presidente do Conselho dos Assuntos Económicos e de Desenvolvimento; e, mais relevante do que os anteriores, para o segundo lugar na linha de sucessão da Casa de Saud, atrás do primo Mohammed bin Nayef.
A subida ao topo da escada de poder saudita deu-se então, em junho do ano passado, depois do Rei Salman ter afastado o sobrinho e nomeado MbS como príncipe herdeiro do trono de Riade. Mohammed bin Salman aproveitou o momento para liderar, na sombra, o boicote diplomático regional ao Qatar e para promover uma estratégia ainda mais agressiva para com o vizinho e rival Irão. Internamente, montou o palco para a aceleração da implementação da ‘Visão 2030’, um plano reformista, por si concebido, e destinado a diversificar a economia da Arábia Saudita, há muito dependente no preço do barril do petróleo.
Consciente de que essa modernização económica, mas também societal, dependeria de uma série de cortes com algumas das regalias próprias da abundante família real e que não cairia bem junto de algumas fações, o herdeiro do trono cortou o mal pela raiz, liderando uma purga sem precedentes a príncipes, militares, políticos e empresários do país.
As detenções e destituições de personalidades incómodas para a nova liderança apanharam sauditas e não sauditas de surpresa e multiplicaram-se nos últimos três meses, confirmando a ambição de MbS em levar avante uma revolução que também conheceu alguns progressos, no que toca aos direitos das mulheres. Se é certo que para 2030 ainda faltam uns bons anos, também o é que Mohammed bin Salman não precisou de muito tempo para deixar a sua marca. Para melhor ou para pior, a Arábia Saudita está a mudar e já o deve a este ‘jovem’ de apenas 32 anos.