Espuma no rio Tejo alerta para perigos da poluição

Ambientalistas responsabilizam fábricas de celulose. Presidente da Quercus afirma que lei “favorece quem polui”

Uma espessa camada de espuma branca no Tejo, com cerca de um metro de altura e alegadamente proveniente das fábricas de celulose de Vila Velha Ródão, não passou ontem despercebida. Houve até quem lhe chamasse “espuma da morte”. A poluição no rio não é de agora, denunciam associações, mas pouco tem mudado.

“Temo-la vindo a constatar há mais de três anos. São grandes descargas que tornam as águas negras e cheias de espuma”, diz Paulo Constantino, porta-voz da PROTejo, organização que denunciou a situação.

A enorme quantidade de espuma é um sinal claro de um aumento da poluição no rio, mas não é o único motivo. “Ter espuma é sinal de que realmente há poluição, mas o facto de haver poluição não faz com que haja espuma”, diz o presidente da Quercus, João Branco, alertando para o risco de a situação ter mediatismo e depois ser esquecida. “A espuma apenas torna a poluição mais visível”, diz.

As associações têm vindo a sinalizar responsáveis. “Temos vindo a apontar que a empresa Celtejo está sinalizada como significativa contribuinte para as ocorrências de poluição no rio Tejo superior”, denuncia Constantino. Já o dirigente da Quercus defende que “quando se chega a Vila Velha de Ródão é que o rio leva com uma enorme poluição. Acima dessa localidade a qualidade da água é bastante melhor”. O dirigente avançou ainda ao i que “existe um emissor submarino que vem daquelas indústrias e que, alegadamente, vem da Celtejo. Não se sabe com certeza quais as fábricas que emitem com esse emissor”. 

Denuncia ainda que a “Celtejo está a ampliar centrais de tratamento de águas residuais e ninguém o faz se não precisar”. 
No relatório da Comissão de Acompanhamento sobre Poluição no Rio Tejo de 2016, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), defende-se a implementação de medidas prioritárias em Vila Velha Ródão, entre as quais a “redução da carga poluente rejeitada pela unidade industrial da Centroliva no meio hídrico”.

Entre as entidades responsáveis pelas medidas estão as empresas Centroliva e Celtejo, ambas dedicadas à indústria da celulose. “Prevê-se que a implementação ocorra num prazo de dois anos, estando concluída em 2017”, pode ler-se ainda no documento. “Há toxicidade na água que trespassa para os peixes, mas também para as terras com regas. As pessoas acabam sempre a ter contacto com a água de uma forma ou de outra, além do incómodo do mau cheiro para quem vive na zona”, alerta Branco. 

Impunidade?

O presidente da Quercus denuncia que “a legislação favorece quem polui” ao descartar “99% dos autos redigidos por militares da GNR” no terreno. “Em tribunal, o poluidor acaba por ser absolvido por falta de provas”, garante. Em causa está o facto de a “legislação considerar que uma prova de poluição requer amostras retiradas em certas condições e período temporal”, o que “torna impossível condenar pessoas por poluição e atribuir responsabilidades”.

Para João Branco, a solução passa por alterar a legislação, algo que tende a demorar por o poder político ter “tendência para desculpar estas ações das indústrias” e por “inércia, falta de vontade e até por incompetência”. 

A APA anunciou ontem em comunicado estar a acompanhar a situação no Tejo e ter recolhido amostras da água e espuma. Os resultados serão conhecidos na próxima semana.