A Casa da Liberdade

O IEP tem, claro, quem se oponha à sua natureza. Todas as casas da liberdade tiveram inimigos

Não é fácil explicar e várias vezes me pediram para fazê-lo. Porquê ali, porquê Ciência Política, não sendo exatamente a formação mais habitual para um jornalista. A verdade é que escolhi formar-me no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica (IEP/UCP) antes de me passar pela cabeça entrar no mundo dos jornais e até antes de conhecer a sua natureza – aquilo a que no título nomeio como «Casa da Liberdade». 

Cada vez que me perguntavam, a minha resposta pendia para a imagem da sala Infante D. Henrique, que serve de pequena biblioteca ao Instituto, onde é também possível encontrar imprensa nacional e internacional. 

Da revista progressista britânica New Statesman à conservadora norte-americana National Review, a diversidade daquelas publicações, ali disponíveis para qualquer aluno ou professor, era proporcional à variedade de ideias discutidas na mesma sala. 

É por isso que chamo à academia dirigida e fundada por João Carlos Espada uma Casa da Liberdade: porque nenhum de nós se atreve a dizer o que a Liberdade é, definitivamente, mas nenhum de nós se deixa esquecer daquilo que ela não é. 

Sobretudo, e querendo somente falar por mim, aprendemos a valorizar a liberdade de discutir a Liberdade – o que não é exatamente garantido em todos os cantos do globo, incluindo o canto lusitano. 

Dito de outro modo: aqui não há costume de cancelar palestras por protestos de seja quem for. 

A minha aversão a escrever que algo «nunca será» de um modo ou que «sempre foi» de outro nasceu daí. Da noção de que o fatalismo oferece aos argumentos uma armadura de fraca solidez, que só perpetuará a ignorância de quem a vestir.  

O apelo que Winston Churchill fez aos «homens públicos», há 76 anos, em discurso ao congresso americano, para se orgulharem de «servir o Estado» e se «envergonharem» da possibilidade de algum dia «possuírem o Estado» é o apelo que a educação ‘iepiana’ clarifica, deixando-o à livre-escolha de cada um. Ou abraçá-lo ou não. 

Hoje, ao sair das portas do Instituto, entendo melhor por que fiz essa escolha. E a resposta continua a ser aquela biblioteca, continua a ser a constante conversa e interação entre quem em liberdade, continuam a ser os mestres e professores que não deixaram de sê-lo mesmo depois de oficialmente o deixarem de ser. 

No fim do dia, o IEP tem, certamente, quem desgoste ou se oponha a esta sua natureza. Afinal, todas as casas da liberdade tiveram – e têm – os seus tradicionais inimigos. Tal não surpreende. Mas, e eles já deveriam saber, we shall never surrender…