À 11ª tentativa, foi de vez. O Sporting conquistou finalmente a Taça da Liga, depois de alguns anos a ver frustrada essa ambição – e uns poucos a desvalorizar a competição –, e fê-lo da mesma forma com que a havia visto fugir nas duas vezes em que chegou à final: nos penáltis. No jogo decisivo, frente ao Vitória de Setúbal, os leões até entraram a perder, devido a um golo de Gonçalo Paciência logo aos quatro minutos, mas viriam a chegar ao empate a dez minutos dos 90, num penálti convertido por Bas Dost a castigar mão de Tomás Podstawski.
Como a prova não contempla prolongamento, a decisão partiu de imediato para a marca das grandes penalidades, onde já nas meias-finais o Sporting se havia imposto ao FC Porto. Do Vitória, só um homem falhou: Podstawki atirou à trave, culminando uma noite terrível; do outro lado, todos acertaram e a Taça, pela primeira vez em 11 edições, seguiu para Alvalade, fazendo do Sporting o “campeão de inverno” – a pomposa designação inventada pela Liga na época passada para o vencedor desta prova.
No fim, na hora de festejar, Jorge Jesus lembrou que este era o primeiro passo para recolocar o Sporting no caminho dos títulos. “Estas finais são importantes para os clubes criarem identidade e cultura de campeão. O Sporting está a transformar a esperança. Este é o meu terceiro ano, já ganhei dois títulos [a Supertaça em 2015 e agora a Taça da Liga]. Claro que o mais importante é o campeonato, mas o Sporting estava muito longe do que eram os dois rivais. Por isso é que o FC Porto e o Benfica saíram vencedores ao longo destes anos todos. O Sporting está a começar a dar os seus passos e já está a disputar títulos. Agora, os adeptos já podem dizer que já ganhámos títulos”, salientou o técnico – negligenciando, ainda assim, o facto de, na época anterior à sua chegada, o Sporting ter ganho a Taça de Portugal, era ainda Marco Silva o treinador…
De qualquer forma, Jesus ressalvou a importância superior do campeonato em relação a esta competição. Tal como Bruno de Carvalho, de resto: o presidente leonino, como é seu apanágio, não se coibiu de festejar efusivamente esta conquista, mas deixou bem expresso o objetivo primordial para esta temporada. “Toda a gente sabe qual é o nosso objetivo principal: o campeonato nacional. Mas foi importante vencer esta competição, tínhamos quatro objetivos e conseguimos o primeiro título. Este não era o objetivo da época, era um dos objetivos. Vamos ganhando um a um. Que esta seja a primeira alegria de várias”, ressalvou, agradecendo aos sportinguistas por se manterem “unidos e coesos”.
Até aqui, tudo era sorrisos – como o atestam os cerca de 500 adeptos que estavam em Alvalade à espera da chegada da equipa, por volta das 3h30 da madrugada, e que a brindaram com vigorosos aplausos. O pior veio depois.
Críticas e Facebook Ao início da tarde deste domingo, Bruno de Carvalho voltou a recorrer ao Facebook – a sua forma preferida de se dirigir aos adeptos sportinguistas – para, numa publicação intitulada “Reflexão interna”, deixar críticas veladas… aos adeptos do clube. Ou a alguns, neste caso. O presidente leonino enumerou um conjunto de frases habitualmente referidas por sportinguistas reveladoras de exigência máxima, como “Quando o Sporting CP joga é para ganhar tudo!”, “Aperte com eles Presidente!”, “Temos de ter mentalidade de vencedores!” ou “Não interessa se jogamos bem ou mal, temos é de vencer!”.
Depois, contrapôs estas mesmas frases com outras que garante ter ouvido e lido durante a noite de sábado e o dia de ontem, como “Que interessa a Taça da Carica?”, “Mas alguma vez vou comemorar a Taça Lucílio Batista?”, “Mas estamos a comemorar o campeonato?”, “Jogámos uma miséria!” ou “Não é de Presidente andar no meio dos atletas a comemorar e em entrevistas na brincadeira”, frisando – em letras garrafais na palavra todos – que presidente, treinador e atletas realçaram como objetivo “ganhar tudo e sobretudo ser campeão”.
“Sinceramente nem tenho palavras… Somos os primeiros a deitar-nos abaixo… Querem finalmente pôr um ‘telhado’ no nosso Clube mas desdenham as paredes e pilares. É um ‘gosto’ ouvir e ler coisas assim…”, prosseguiu Bruno de Carvalho, deixando ainda um pedido aos referidos adeptos: “Na AG do próximo dia 3 definam o que querem e nós assim faremos.”
O pleno é possível Para já, a realidade está do lado de Jesus e Bruno. É verdade que o futebol apresentado pela equipa leonina nesta competição esteve longe de ser brilhante e que o Sporting conquistou a prova com apenas uma vitória no tempo regulamentar em cinco jogos disputados (6-0 à secundária União da Madeira; empates 0-0 com Marítimo e FC Porto e 1-1 com Belenenses e Vitória de Setúbal, na final).
Ainda assim, não se pode escamotear o facto de os leões continuarem com reais aspirações em todas as provas que disputam esta temporada – exceção feita à Liga dos Campeões, substituída pela Liga Europa, onde as possibilidades de um triunfo final sobem consideravelmente. No campeonato, o Sporting segue em segundo, um ponto atrás do FC Porto, sendo que os dragões ainda têm os segundos 45 minutos do jogo com o Estoril para jogar; na Taça de Portugal, o conjunto verde-e-branco está nas meias-finais, que disputará a duas mãos com os dragões. Por agora, no único confronto decisivo entre ambos, o leão foi superior – e muito da conquista deste primeiro troféu passou por aí.