No Madison Square Garden de Nova Iorque, a gala serviu para todas as discussões. Políticas, visuais, musicais e familiares.
Os Grammys são amigos da teoria do multiecrã e as redes sociais hão-de delirar durante muito tempo com o gesto de Blue Ivy a pedir calma ao casal mais poderoso do mundo durante o discurso pró-imigração de Camila Cabello. Terá a menina de seis anos mostrado quem manda em casa dos Carter, Beyoncé e Jay-Z? Na eternidade viral já entrou.
Blue Ivy controlling the crowd and the world. #Grammys pic.twitter.com/oWLnRFlvcT
— Carly Heading (@carlyylalaa) 29 de janeiro de 2018
Os prémios ainda têm peso para a indústria mas cerimónia que é cerimónia vibra com a passadeira vermelha. Na avenida das celebridades, Tyler The Creator roubou a atenção com o "cabelo de leopardo". Se houvesse um Grammy para a excentricidade, seria do rapper.
hat on, fuck it hat off #GRAMMYs pic.twitter.com/AqHlf0frx6
— The FADER (@thefader) 28 de janeiro de 2018
Antes sequer de ter começado, o primeiro incidente da cerimónia já se tinha registado quando Lorde se recusou a atuar. A produção pretendia que participasse numa homenagem a Tom Petty, morto no ano passado.
A neozelandesa queria atuar a solo, à semelhança do que fizeram os restantes nomeados para Álbum do Ano (todos homens e com exceção de Jay-Z), mas não pôde. Em resposta, publicou uma fotografia trajada com um vestido vermelho pregado por um ensaio feminista.
De resto, a política esteve por toda a parte. Dave Chapelle "interrompeu" seis minutos de tsunami Kendrick Lamar para deixar uma lança na América.
"A única coisa mais aterrorizadora do que ver um preto ser honesto na América é ser um preto honesto na América". E o espetáculo continuou com os versos do descontentamento de Lamar.
Bono e The Edge fizeram companhia a Lamar em "XXX", a introdução do medley; os quatro U2 interpretaram "Get Out Of Your Own Way" em frente a uma Estátuta da Liberdade.
No final da canção, Bono falou em nome dos "países merdosos" citados por Donald Trump há poucas semanas. "Abençoados são os países merdosos por nos permitirem o sonho americano", declarou. O rapper Logic também terminou o single "1-800-273-825" – que acabaria por perder o Grammy de Melhor Canção – referindo o tema.
De ano para ano, o peso musical do Grammy decresce mas este ano os prémios foram marcados para um despique muito particular. Bruno Mars venceu em todas as categorias a que concorria – seis – e Kendrick Lamar em cinco mas as mais importantes foram para o primeiro.
"24k Magic" acabou eleito Álbum do Ano e "That's What I Like" a Canção do Ano. Lamar levou os títulos de Álbum Rap do Ano com "Damn" e Vídeo do Ano com "Humble".
O Álbum Pop do Ano foi "÷ (Divide)" de Ed Sheeran, o Álbum Rock foi "A Deeper Understanding" dos War On Drugs, o prémio na categoria de Alternativo para "Sleep Well Beast" dos The National e na Dança para "American Dream" dos LCD Soundsystem. Leonard Cohen, que nunca tinha ganho um Grammy em vida, foi distinguido, a título póstumo, com o prémio para a Melhor Atuação Rock, com a canção 'You Want it Darker', em que assume estar pronto para morrer.
Para haver vencidos, tem de haver derrotados. Jay-Z foi silenciado outra vez nas oito (!) categorias para que estava nomeado e SZA nas cinco a que podia aspirar. "Despacito", sua ominpresença do ano passado, também não dançou e perdeu todas as grafonolas.
Em palco, Bruno Mars fez uma festa "Finesse" com Cardi B. Rihanna alinhou os chacras com DJ Khaled em "Wild Thoughts", Childish Gambino convocou a espiritualidade em "Terrified" mas talvez o momento mais poderoso tenha sido o coro gospel de Kesha em "Praying", um recado para o produtor sueco Dr. Luke, acusou de abusos sexuais e violência emocional sobre a cantora.
Cyndi Lauper, Camila Cabello, Julia Michaels, Andra Day e Bebe Rexha ofereceram proteção durante a performance. Se nos Globos de Ouro dominaram os vestidos pretos em solidariedade com o movimento #MeToo, na cerimónia dos Grammy foram as rosas brancas que sobressaíram
A surpresa da noite foi Hillary Clinton. A candidata derrotada por Donald Trump leu um excerto do controverso livro "Fogo e Fúria: Por Dentro da Casa Branca de Trump".